O músico e compositor José Pedro Morgado é uma das grandes figuras dinamizadoras do nosso carnaval, com 52 anos de carreira dedicados à preservação, desenvolvimento e divulgação da nossa cultura. Compôs e inter- pretou diversos temas para o Entrudo em diferentes grémios. Ganhou notoriedade no Carnaval dos Musseques, na época colonial, ao interpretar, no grupo carnavalesco União Fina, do Rangel, a figura de um folião índio, o gentio, associado à sua dança acrobática
Nesta curta entrevista ao OPAÍS, Jucas Dya Kisesélu, de 72 anos, como é carinhosamente tratado no meio artístico, fala da sua trajectória, da experiência granjeada nas diferentes etapas do Carnaval da Vitória, à fase actual e das dificuldades em gravar o seu único disco de Memórias
Como o projecto artístico está também em termos de produção discográfica?
Olha, começa precisamente naquilo que me toca e mais me dói. Desde o período colonial, não conheço o que é entrar num estúdio para gravar obras da minha autoria, obras do meu repertório, que estão encaixadas numa gaveta a apanhar ferrugem, que até podiam servir para os jovens e as novas gerações cantarem. Muitas coisas estão a se repetir hoje, quanto às obras dos cantores do antigamente. Não quero muito, preciso gravar apenas um disco. São 52 anos de carreira dedicados à preservação, desenvolvimento e divulgação da nossa cultura. Gostaria de festejar os 50 anos de Independência Nacional com um novo disco.
Há quanto tempo não grava um disco?
Já não gravo há bastante tempo. Recordo-vos que apenas em 2004, participei num concurso denominado “Semba de Ouro”, criado pela União Nacional dos Artistas Compositores (UNAC), e fui classificado para gravar um disco conjunto. De lá para cá, tudo continua conforme. Nunca recebi convites para shows individuais, nem colectivos, no âmbito desta participação, muito embora tenha muito antes gravado dois discos single 45 rpm Angola – Merengue MPA em vinil, com quatro faixas músicas, pela Editora Valentim de Carvalho, dos quais se destacam os temas, “Muxima Kuiba”, Ngalassa Dyami”, entre outros.
A que se deveu a arquivação dos referidos temas?
Antes da independência, participei na recepção da primeira Delegação Oficial do Movimento de Libertação de Angola (MPLA) a Luanda, em 1974, encabeçada pelo camarada Lúcio Lara. Eu morava no bairro Rangel e, na altura em que a delegação chegou, estava em casa da Dona Mália, já com os dois discos na bagagem. A minha mãe não queria que eu me metesse em política, porque eu andava com o David Zé, o Urbano de Castro e com o chamado perigoso Sabata, que amedrontava as pessoas do Musseque com uma arma AKM, com o cano cortado e tantos outros, cujos nomes não me vêm agora à memória.
POR:Fotos de Carlos Augusto