Lungoyi-ngoyi, por outros chamado de Ntua Macaco, devido à sua forma de caixa com cabeça que parece um macaco, é um instrumento musical tradicional típico do povo do Zaire, que emite uma sonoridade única e genuína, preservando os ritmos da ancestralidade daquela região
O instrumento, também conhecido por Ki Ngulu-ngulu, em virtude de a sua sonoridade assemelhar-se ao roncar do porco, é produzido artesanalmente com madeira, em forma de caixa de ressonância semelhante à de uma guitarra, com uma corda fina esticada, e é executado com um arco artesanal.
É um dos instrumentos musicais tradicionais mais antigos da cultura Bakongo e dos mais autêncos, com uma sonoridade peculiar, cujo surgimento remonta aos séculos XV a XVIII — período em que o utensílio era utilizado nas festividades populares e mais tarde incorporado nas sonoridades do reinado do Rei do Kongo.
O uso deste instrumento musical é regular nos ritmos folclóricos das festividades do povo do Zaire, com maior incidência no género musical e de dança Malanda, uma linguagem métrica e expressiva dos povos Kongo.
As sonoridades do Ntua Macaco, como também é tratado, são frequentemente ouvidas nos eventos de celebração do rei ou do sobado, ou ainda em rituais tradicionais onde se exige a entoação de ritmos autênticos da ancestralidade cultural.
Nas diversas manifestações tradicionais — com enfoque para a dança Malanda — o uso do instrumento demonstra respeito e valorização pelos ritmos ancestrais, convidando-os espiritualmente a juntarem-se às celebrações do povo, como explica Kediamosiko Toko, guia turístico e coordenador do Museu dos Reis, em M’banza Kongo.
“Este instrumento era usado pelos mestres da música que cantavam nas festividades do povo para agradecer o rei. Não era um instrumento da realeza, era mais do povo, mas, devido à sua popularidade, passou também a ser usado nas festas do reinado e até hoje é usado nas festas tradicionais do nosso povo”, explicou.
Segundo ele, a métrica da dança e o compasso do instrumento formam uma expressão linguística transversal que une agrupamentos culturais de diferentes nações e tribos.
Acrescenta que, naquela época, nem todo músico era capaz de dominar tal instrumento. Era necessária muita mestria para se manejar o Lungoyi-ngoyi e extrair dele os sons desejados.
Um instrumento com identidade e história
Feito com formato semelhante ao de uma guitarra tradicional, com cordas afinadas e bem esticadas, o instrumento emite sons ao ser roçado por um arco que faz as vezes dos dedos do instrumentista.
Carrega consigo a história de um povo, dos seus ritmos e manifestações culturais. Para o povo do Zaire — que se destaca pela preservação dos seus valores culturais — o Ntua Macaco é mais do que um instrumento musical: é uma relíquia, um símbolo genuíno da tradição.
Apesar disso, a sua divulgação ainda está aquém do desejado. Segundo Kediamosiko Toko, o instrumento é pouco falado, mesmo entre os artistas locais.
“Há artistas que fazem música folclórica mas não conhecem o valor deste instrumento. É preciso mais divulgação para mostrar que estamos a preservar o que é nosso, a nossa cultura como Bakongo”, expressou.
Um instrumento complexo de ser dominado
Entre as dezenas de mestres da música folclórica do Zaire, contam-se nos dedos aqueles que dominaram o Lungoyi-ngoyi. Entre 20 a 40 anos, apenas um artista se destacou: o músico e instrumentista António Muanda (Madiata), natural do Nzeto, nascido em 1952 e falecido em 2020, em M’banza Kongo. De acordo com o guia turístico, Madiata foi dos poucos a incorporar os ritmos do instrumento nas suas actuações.
“Fazia parte do roteiro turístico da cidade. Toda a gente queria vê-lo a tocar. Ninguém tocava o Ntua Macaco como ele. Era um verdadeiro mestre da nossa música e da nossa cultura”, afirmou. Turistas que visitavam a cidade “Património Histórico da Humanidade” encantavam-se com a classe e estilo com que Madiata manuseava um instrumento que mesclava o tradicional e o moderno.
Exposição no Museu dos Reis
Após a morte de Madiata, o instrumento ganhou lugar no acervo do Museu dos Reis, no coração de M’banza Kongo. Hoje, quem visita a cidade é convidado a conhecer o instrumento, exposto entre outros artefactos históricos e culturais. Pendurado na parede do salão de reuniões do rei, no pátio do museu, o Lungoyi-ngoyi chama a atenção pela sua forma singular — entre guitarra e violino — despertando curiosidade e respeito.
O Museu dos Reis recebe mensalmente mais de 150 visitantes, entre turistas nacionais e estrangeiros. A cidade recentemente celebrou o seu 8.º aniversário de elevação a Património Mundial da UNESCO, e o instrumento tornou-se símbolo vivo da história musical do povo Kongo.