A historiadora italiana de arte, Laviania Collodel, considerou Angola um terreno fértil, com um potencial em crescimento e uma tendência para modos abertos à experimentação — não só no plano expressivo, mas também temático
Laviania Collodel, que acaba de apresentar em Luanda a instalação “Art Mag Corner”, da qual também foi curadora, com produção de Maia Tanner, afirmou compreender a urgência e a importância da criação e estruturação sólida de uma Arte e História da Arte Nacional.
Indagada sobre a possibilidade de vir a colaborar futuramente no estudo da História das Artes em Angola, Laviania salientou que o desenvolvimento e a evolução das expressões artísticas do país — incluindo a música, a dança, a literatura, as artes plásticas e visuais (como pintura, escultura, vídeo, fotografia e performance), o artesanato e outras formas de expressão que reflectem a identidade e a história angolana — são tão vastos que “não chegaria uma vida” para dar conta de tudo! Apesar disso, admitiu ter esse desejo, caso a situação o permita, restringindo o campo a um ramo específico de pesquisa.
Por meio da colaboração com revistas internacionais, acredita ser possível abrir uma ponte de comunicação sobre os desenvolvimentos artísticos visuais atuais, com uma abordagem que conecte futuro e passado — refletindo “para onde se vai e o que se foi”.
Uma das possíveis áreas de atuação, caso venha a consolidar-se essa intenção, segundo a historiadora, é sobretudo aquela à qual está habituada a trabalhar — vindo de uma cidade como Roma — voltada à preservação da identidade cultural e à promoção da história e dos valores do país.
Trata-se da área ligada à arte visual, em especial à performance e à arte participativa, por meio da produção de textos transversais, que incluem artigos, narrativas e poesia.
Instalação site-specific: Art Mag Corner
Questionada sobre o surgimento da sua recém-apresentada instalação “Art Mag Corner” (Recanto das Revistas de Arte), explicou que o projecto nasceu da vontade de partilhar conhecimento com o público da capital e não só. A ideia surgiu quando Laviania se apercebeu da dificuldade em encontrar revistas internacionais.
Quis, então, apresentar algo interativo, no sentido físico — e não digital — do termo: algo que permitisse ao público participar ativamente. “Interativo”, explicou, refere-se ao ato de pegar numa revista com as mãos, folhear, explorar.
Quanto ao uso de cabides na instalação, explicou que a ideia é experimentar, como se fossem roupas: as revistas podem ser tocadas, lidas em diferentes idiomas, e apreciadas também por suas imagens, que exibem obras de artistas de várias partes do mundo.
“Uma revista faz a mente viajar. Este recanto das revistas, que na verdade é uma parede, nasce da vontade de compartilhar uma coleção pessoal e uma pesquisa contínua sobre publicações neste formato”, declarou Collodel.
A historiadora disse estar habituada a contar histórias da arte, mas desta vez, em Luanda, optou por apresentar, numa instalação, a palavra de outros.
A proposta visual consiste em duas fileiras de revistas de Arte Contemporânea Internacional penduradas em cabides, como uma instalação artística. “Estou habituada a contar histórias da arte”, reforçou Laviania.
Trajectória
Laviania Collodel é licenciada em Letras e História da Arte pela Universidade RomaTre, com mestrado em Gestão da Arte pela Faculdade de Arquitetura da Sapienza, em Roma. Começou a estudar História da Arte na universidade, em 1999, e desde então tem trabalhado sempre no setor das artes, ainda que em áreas variadas, sem seguir um percurso único.
O seu trabalho tem-se centrado no contar de histórias da arte, seja por meio de projetos curatoriais, visitas guiadas ou da escrita, sempre com um olhar voltado para o futuro e com grande atenção ao patrimônio cultural, histórico e artístico do seu país.
Colaborou com galerias e fundações como a Galleria Il Ponte Contemporanea, em Roma, e a Fondazione Sandretto Re Rebaudengo, em Turim. Também integrou a equipa do Studio Marco Tirelli, no Pastificio Cerere, estúdio de artista em Roma.