Os músicos que se dedicam ao estilo tradicional no país, considerados como guardiões das raízes da cultura nacional, lamentam a falta de atenção das instituições de direito para o desenvolvimento dos seus trabalhos
Os artistas ouvidos pelo OPAÍS lamentam a falta de apoio que tem dificultado o desenvolvimento dos seus projectos, muitos deles relacionados com o lançamento de álbum musical.
Baló Januário, compositor deste género musical, propriamente a cabetula, cabecinha, quilapanga, da região da Quiçama, disse que a realidade dos músicos tradicionais tem sido vista com pouca atenção e valorização que merece por parte das instituições de direito.
“Não é possível viver da música tradicional no nosso país, do ponto de vista cultural. O país em si nunca esteve preparado para esta situação. É uma questão de educação e cultural. Nós não temos mercado para isto.
A pessoa que gosta da tua música não tem nada para te dar, só tem mesmo a satisfação, o amor e aquele carinho. Em outras paragens, onde o artista vende um CD, uma música e já está realizado.
Nós aqui estamos muito longe”, lamentou. O autor do sucesso “Boca na Botija”, que tem acompanhado os desafios de muitos jovens artistas que pretendem abraçar a música tradicional, aconselha-os a preservarem a sua identidade, suas origens, cultura e ritmo, principalmente àqueles que estão em via de extinção, por forma a salvaguardar o sentido de pertença.
Com mais de 10 anos dedicados a este género musical, que resultaram no lançamento de cinco discos no mercado, Baló disse que neste momento não pretende trocar de ritmos, já que o feedback do público, assíduo ao seu trabalho, tem sido positivo.
Quem dividiu da mesma opinião é o músico Carvalho Cumbi “Pai Mix”, um dos vocalistas principais do grupo folclórico Kumbi Lixia, da região da província do Cunza-Sul, que manifestou a carência de palco como motivo de insatisfação para muitos artistas de música tradicional.
No seu ponto de vista, o Ministério da Cultura e as pessoas de direito devem criar mais palcos, no sentido de abrir portas para que os fazedores da música. “Devem dar mais honra e dignidade em tudo que diz respeito às raízes locais, os costumes e aos guardiões da linha da frente, porque se não derem será muito difícil para os mais novos seguirem o caminho e, deste modo, a nossa cultura ficará mais pobre”, sublinhou.
Carvalho Cumbi lamenta ainda o facto de não serem valorizados como os artistas de outros géneros musicais, como os fazedores de kuduristas, semba, entre outros. Pela especificidade do trabalho que desenvolvem, defende que representam a cultura do Cuanza-sul, que entrega o nosso país.