A estilista angolana Elizabeth Santos destacou, durante a III edição da Feira MOCCO – Mostra de Corte e Costura, a importância de transmitir o seu legado às novas gerações, garantindo a continuidade das várias disciplinas artísticas do país
Professora do CEARTE e homenageada nesta edição da Feira — realizada de 11 a 14 deste mês, sob o lema “Meu corte, minha arte; minha costura, meu talento” — Elizabeth Santos tem apostado na formação de jovens, integrandoos no seu atelier como forma de partilhar conhecimento e garantir a passagem de testemunho. “Tenho dado oportunidade à nova geração com o enquadramento no meu atelier.
É essencial preparar quem vai continuar este trabalho”, afirmou. Durante o evento, Elizabeth agradeceu a homenagem e reafirmou seu compromisso com a cultura angolana, simbolizado pela bessangana, traje tradicional que adoptou como marca pessoal há mais de 50 anos. “Desde que comecei a trabalhar nas passarelas, decidi que levaria a bessangana até à eternidade.
Ela é a minha bandeira”, declarou emocionada. O amor pelo ofício, o carinho pelo povo angolano e o patriotismo têm sido, segundo ela, os pilares que a ajudaram a superar os desafios da carreira.
Colecção “Costura: uma arte para a vida”
Durante a feira, a estilista apresentou a colecção “Costura: Uma Arte para a Vida”, composta por mais de 30 peças. A colecção destaca a presença constante da costura em todas as fases da vida, do nascimento à morte, reforçando a importância cultural da arte de vestir.
“A costura está presente em todas as facetas da vida e em todo o mosaico da nossa cultura. Não se pode falar de cultura sem falar de trajes e roupas”, frisou. As peças vão desde os trajes típicos tradicionais até versões modernizadas, pensadas para ocasiões diversas: do quotidiano a eventos solenes, como funerais e casamentos.
Samacaka e Samalela: entre tradição e inovação Elizabeth também fez referência ao traje tradicional Samacaka, criado no século XVIII por Samacaka yolu Ndongo, no Reino do Bailundo.
O traje funcionava como um código de comunicação entre guerreiros na luta contra os colonizadores portugueses. Inspirada por essa história, em 2004 e 2007, a estilista criou a Samalela, uma versão modernizada da Samacaka: “A Samalela é filha da Samacaka. Quero que se torne um traje nacional, tal como a Samacaka já é”, lembrou.
50 anos de carreira e a Independência
Ao reflectir sobre os 50 anos de independência de Angola, Elizabeth destacou o orgulho de ter acompanhado esse percurso histórico desde tenra idade. “Sinto uma grande vitória. Os meus pais e avós sonhavam com a independência. Eu faço parte da segunda geração e vivo esse marco com gratidão”, sublinhou.
Desafios da profissão Apesar da longa carreira, a estilista reconhece que ainda é difícil viver exclusivamente da moda no país. O consumo de roupas ainda é limitado, e os profissionais enfrentam obstáculos, como o difícil acesso a materiais.
“Muitas vezes é preciso buscar outras atividades para equilibrar as despesas. O consumo ainda é reduzido e isso afecta muito a sustentabilidade dos nossos ateliês”, lamentou. Elizabeth deixou uma mensagem aos jovens profissionais da moda: “É preciso foco, disciplina, resiliência, persistência e humildade.
Trabalhar com os mais antigos é fundamental para adquirir experiência.” Reforçou o compromisso de continuar a orientar novos talentos, garantindo que a arte da costura e os trajes tradicionais de Angola sigam vivos por muitas gerações.