O cantor angolano Totó ST declarouse regozijado por, sendo jovem, interpretar grandes clássicos da música nacional, em concerto que visou celebrar meio século de independência do País, realizado neste sábado, 11, no Palácio de Ferro, em Luanda
Eufórico, num evento que contou com a participação de mais de 200 pessoas que aplaudiram, demostraram manifestações de alegria, de reflexão e dança, apelou à população a ser mais patriótica, unida e resiliente.
As canções, interpretadas com emoção, começaram a ganhar vida desde o primeiro bloco do espectáculo, marcado por momentos de imersão em músicas de lamento sobre a luta de libertação nacional. As letras e melodias dos grandes ícones da música tradicional angolana despertaram a memória colectiva sobre o passado do país.
Com seu estilo peculiar, o anfitrião Totó ST subiu ao palco vestido de branco, símbolo de paz e vitória, acompanhado de sua viola, instrumento que o acompanha em todas as jornadas. Sua voz inconfundível animou a plateia ao interpretar a canção “Muxima”, do grupo Ngola Ritmos, popularizada por Liceu Vieira Dias, lançada em 1965 e cantada em Kimbundu, cuja tradução para o português é “Coração”.
Na sequência, ouviu-se “Birin, Birin”, de Ruy Mingas, (in memoriam), seguida da canção “Valódia”, de Santocas, do disco Glória Eterna aos Nossos Heróis (1976). Clássicos como “O Guerrilheiro”, de David Zé, e “Kisua Ki Ngui Fua”, de Artur Nues (in memoriam), também fizeram parte do repertório, este último pertencente à colectânea Anthologie de la Musique Angolaise (1973–1975).
Outros destaques incluíram “Mona Ki Ngi Xica”, de Bonga; “Velha Xica”, de Waldemar Bastos e “Os Meninos do Huambo”. Já os temas “11 de Novembro” e “Nguxi”, de Rosita Palma e da sua irmã Belita Palma (in memoriam), foram interpretados pelo grupo tradicional Nguami Maka, seguidos da declamação do poema “Caminho do Mato”, escrito por António Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola.
O concerto foi dividido em quatro blocos temáticos: canções sobre a guerra, a independência nacional, a paz e, por fim, uma homenagem aos 50 anos de Angola com a música “Por Angola”, composta por Totó ST especialmente param a ocasião.
No final, o anfitrião manifestou a sua emoção com a recepção calorosa do público. “Foi um concerto maravilhoso. Não esperava uma reacção tão positiva. Pesquisei bastante para seleccionar as músicas mais adequadas.
É um grande regozijo para mim, sendo jovem, interpretar esses grandes clássicos. Nestes 50 anos de independência, devemos ser mais patriotas, unidos e resilientes”, afirmou.
Participações de músicos consagrados
O concerto contou com a presença de músicos conceituados do cenário nacional, como Filipe Mukenga, Dina Santos e Dom Caetano, entre outros, que falaram sobre a independência e o papel da música nesse processo.
Aos 76 anos, sendo 62 dedicados à carreira artística, Filipe Mukenga, com seis discos lançados no mercado nacional e internacional, expressou a sua satisfação por dividir o palco com Totó ST na interpretação da música “Angola no Coração”. Para Mukenga, Totó é um dos jovens mais talentosos da nova geração e ocupa lugar de destaque entre seus artistas preferidos.
Questionado sobre o evento celebrativo, Mukenga disse que os 50 anos de independência são inesquecíveis e que se sente feliz por estar vivo e poder celebrar. “Quando jovem, participei na construção da nossa independência.
Junto com outros músicos, percorremos o país em caminhonetas, enfrentando chuva, usando lonas como protecção. Realizávamos espectáculos para angariar fundos para o partido no poder e mobilizar o povo, enquanto o país era invadido por forças estrangeiras, como o regime racista da África do Sul e mercenários. Quem viveu esses momentos, jamais os esquecerá”, disse, encerrando com um sorriso de alívio.
Por sua vez, a cantora Dina Santos, também convidada, agradeceu pela honra de participar. “Nestes 50 anos, estou muito feliz. Fui condecorada e espero que, no futuro, o país continue realizando conquistas que beneficiem a todos”, declarou.
A vitória para a nova geração
O líder do grupo tradicional Nguami Maka, Jorge Mulumba, considerou o concerto uma mais-valia e um desafio enriquecedor para os artistas, dada a diversidade cultural envolvida. Para si, este concerto serviu para levar à reflexão o que é Angola, dentro e fora do país em meio século de história. “Mesmo que não estejamos aqui nos próximos, desejamos uma Angola melhor para todos”, disse.
Já a cantora lírica Marília Alberto classificou o momento como um grande aprendizado ao partilhar o palco com Totó ST. “Antes do concerto, ouvimos os mais velhos para conhecer o que já foi feito.
Em 50 anos, avançamos em muitos aspectos. Agradeço muito aos que vieram antes, porque naquela altura já faziam coisas fantásticas, mesmo sem as condições que temos hoje. Eles eram verdadeiros artistas, faziam tudo com paixão. Estamos aqui agora para continuar esse legado”, afirmou com alegria.