A cortina do palco do emblemático Palácio de Ferro, na Baixa de Luanda, abriu-se aos aplausos, vozes e assobios do público, no sábado, 20, não para mais um espectáculo, mas para render uma singela homenagem aos percursores do teatro angolano, recentemente condecorados com a Medalha da Paz e Desenvolvimento, pelo Presidente da República, João Lourenço, no âmbito das celebrações dos 50 Anos da Independência Nacional
O evento, organizado pela Associação Angolana de Teatro (AAT), com o título “Nação Teatro Especial Angola 50 Anos”, constituiu uma plataforma de formação, informação, troca de experiências e reconhecimento de especialistas e membros da classe teatral. A cerimónia, bastante concorrida do ponto de vista organizativo e de conteúdo, reuniu membros da comunidade teatral, principiantes na arte, governantes e o público apreciador das artes cénicas.
O evento teve início às 16 horas e 10 minutos, com a outorga de Diplomas de Honra ao actor, dramaturgo, jornalista e escritor José Mena Abrantes, seguido de Manuel Sebastião, antigo director provincial da Cultura de Luanda e mentor do projecto Teatro à Quintafeira, Agnela Barros, o jornalista, produtor e promotor do teatro Kim Freitas, Adão Filipe, Carla Bastos, Raul do Rosário, Roldão Ferreira, entre outros.
Espectáculo e emoção em palco
O segundo bloco da cerimónia foi preenchido com a exibição da peça “Lígia Expulsa de Casa”, pelo colectivo Henrique Artes, cuja perspicácia, crítica social, sentido de humor e entrega levaram o público ao delírio e às gargalhadas, terminando com intensos aplausos da plateia.
Foi uma homenagem carregada de respeito, memória e gratidão àqueles que, com coragem, arte e compromisso, deram corpo e alma ao teatro angolano, agora reconhecidos pelo mais alto mandatário da Nação, João Lourenço, pelo contributo inestimável à paz e ao desenvolvimento do país. O terceiro momento da cerimónia contemplou ainda a entrega de diplomas às companhias Elinga Teatro, Julu, Horizonte Njinga Mbande e Henrique Artes.
Um gesto simbólico e profundo
Na ocasião, o secretário-geral da Associação Angolana de Teatro, Simão Paulino, considerou o reconhecimento feito pelo Estado angolano como um dos mais simbólicos da história recente. “O teatro foi, é e continuará a ser um dos pilares vivos da nossa identidade nacional, da resistência cultural e da capacidade de imaginar um futuro comum”, declarou. Segundo o responsável, o gesto do Executivo é mais do que simbólico — é o reflexo de uma verdade profunda.
Destacou ainda que muitos dos homenageados são membros do Conselho de Honra da AAT, outros são figuras activas no associativismo teatral, e mais do que artistas, são “arquitectos da sensibilidade nacional, guardiões da memória colectiva e militantes do espírito humano”. “Com gestos, palavras, encenações, sacrifícios e sonhos, fundaram palcos onde se construiu cidadania, amor à pátria e empatia”, sublinhou.
Honrar os mestres, inspirar os novos
Simão Paulino afirmou que a AAT assume o dever e o compromisso de replicar o gesto do Presidente da República, honrando os percursores desta arte com carinho e profundo respeito. “Estamos diante de mestres, de pioneiros, de continuadores e renovadores de uma arte que não apenas diverte, mas transforma.”
O dirigente recordou que muitos dos homenageados começaram em tempos difíceis, nos bairros, nas escolas, nas igrejas e nos largos, onde improvisavam palcos com tábuas e coragem. “Ousaram acreditar que o teatro poderia ser um instrumento de paz, de solidariedade e de consciência social.”
O também actor destacou a persistência da classe teatral, que continua a ser bússola para as novas gerações, e lembrou que o legado dos veteranos é alicerce para um teatro mais forte, mais estruturado e mais respeitado, tanto dentro como fora das fronteiras nacionais.
“Que esta homenagem sirva não apenas como uma vénia justa, mas como um renovar de votos: continuaremos a defender o teatro como património cultural da Nação, a honrar a memória dos que nos antecedem, a formar e acolher os que entram neste palco da vida e a fazer do teatro um espaço cada vez mais inclusivo, plural, representativo e sustentável.”