Num momento em que o atletismo angolano luta para reencontrar relevância competitiva e identidade estrutural, o antigo presidente do órgão que rege a modalidade no país, Carlos Rosa, faz uma leitura frontal e desassombrada sobre o estado real da modalidade. Entre a estagnação dos recordes nacionais, ausência de políticas públicas eficazes, debilidades na formação de base e a escassa valorização dos técnicos, o então líder da Federação Angolana de Atletismo (FAA) defende que Angola não “sofre” de falta de talento, mas sim de incapacidade crónica de o identificar, formar e reter. Durante a entrevista ao Jornal OPAÍS, Carlos Rosa insistiu na ideia central segundo a qual tudo passa pela formação contínua assente numa visão estratégica
Quando olha para o panorama actual, que atletismo Angola tem hoje em termos reais?
O atletismo que Angola tem hoje é reflexo directo da sua não valorização, no sentido mais amplo da palavra, por parte dos clubes e, sobretudo, da ausência de políticas públicas consistentes para o seu real fomento e massificação. Quando falamos de massificação, falamos obrigatoriamente da escola, que deveria ser o ponto de partida prioritário. No entanto, isso não acontece de forma estruturada.
Houve evolução efectiva ou estamos apenas a sobreviver à custa da memória de tempos melhores?
Infelizmente, a falta de evolução é evidente. Basta olhar para a tabela dos recordes nacionais, muitos deles com mais de duas décadas de existência. Isso diz muito sobre a estagnação da modalidade. A excepção recente foi a quebra das marcas dos 100 e 200 metros pelo atleta Marcos Santos, que demonstra que é possível evoluir quando existem condições mínimas. Mas, um ou dois casos isolados não escondem o problema estrutural profundo.
Como avalia a qualidade técnica dos atletas angolanos que hoje competem a nível nacional?
A avaliação da qualidade técnica faz-se com base nos resultados desportivos e nas marcas alcançadas nas competições. Quando comparamos essas marcas com os mínimos exigidos para provas internacionais, percebemos que ainda estamos longe. Isso não significa ausência de potencial, mas sim défice de preparação adequada, continuidade competitiva e acompanhamento técnico especializado.
POR: Entrevista de Kiameso Pedro
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