O Natal em Angola é uma época de ce lebração, reencon tro e reafirmação da identidade cultural. Entre as mesas repletas de pra tos típicos, dois alimentos desta cam-se: o funji, um símbolo da tradição africana, e o bacalhau, um legado da presença colonial portuguesa. Esta combinação reflete a complexidade da identidade angolana, forjada na interseção de culturas e na resistência a processos de assimilação. A antropologia da alimentação revela que a comida é mais do que nutrição; é uma linguagem que expressa relações sociais, memórias e conflitos.
Em Angola, o funji, feito de farinha de mandio ca ou milho, é um prato ancestral que conecta as comunidades às suas raízes africanas. Servido em ocasiões especiais, o funji carrega o peso da tradição e da identidade étnica, sendo um elemento central nas cerimônias e rituais. Por outro lado, o bacalhau, introduzido pelos portugueses, tornou-se um ícone da culinária natalícia angolana.
Sua presença nas mesas reflete a influência colonial e a adaptação cultural. Se, por um lado, o bacalhau simboliza a imposição de uma cultura dominante, por outro, sua incorporação nas práticas alimentares locais demonstra a capacidade de ressignificação e apropriação cultural dos povos colonizados. A coexistência do funji e do bacalhau nas celebrações de Natal ilustra a dialética entre tradição e modernidade. Enquanto o funji reafirma a conexão com as origens africanas, o bacalhau representa a influência externa e a construção de uma identidade mestiça.
Juntos, eles formam um mosaico cultural que define a culinária natalícia angolana, onde cada ingrediente conta uma história de resistência, adaptação e inovação. Este estudo destaca a importância da preservação e valorização das práticas tradicionais alimentares, reconhecendo nelas não apenas uma expressão cultural, mas também um meio de resistência e emancipação.
A alimentação natalícia em Angola é, portanto, um campo fértil para explorar as dinâmicas de identidade, memória e globalização, oferecendo de forma profunda uma nova compreensão da cultura angola na valorizando os contextos que se transformam e se reinventam. Palavras-chave: Identidade cultural, Alimentação natalícia, Funji, Bacalhau, Angola, Antropologia da alimentação.
Por: ISAÍAS DE LEMOS
Antropólogo









