A obra literária “O Huambo e o Cinema Ruacaná” (Para a Memória Futura), dos autores Manuel Rui Monteiro e Fernando Oliveira, convida à reflexão sobre o passado e o presente do Huambo, mostrando a capacidade do seu povo de se erguer das cinzas e manter viva a sua identidade
Mais do que um retorno ao passado, o livro ergue-se como acto de reinscrição, convocando o leitor a reconhecer que o futuro se escreve a partir das raízes que persistem, mesmo quando o tempo parece tê-las desperdiçado. O livro reconstrói com profundidade e nostalgia vivências, tradições e cenários que marcaram a antiga Nova Lisboa, conduzindo o leitor a um tempo em que o cinema, a convivência social e os ritmos da cidade moldavam os “Huambuenses”.
As imagens e descrições presentes na obra permitem reviver lugares hoje reduzidos a ruinas, mas que outrora se ergueram como símbolos de vida cultural, especialmente no período influenciado pela guerra e pelas transformações políticas do país Ainda nesta prestigiada obra, os autores realçam também o papel decisivo dos filhos do Huambo na História da Política de Angola, desde o período dos movimentos de libertação nacional até ao governo de Transição, edificação do Estado Angolano, reforçando a importância da cidade enquanto “Cidade Académica” e o Espaço de Resistência Cultural, social e intelectual, razão pela qual Manuel Rui foi homenageado com um Centro Cultural, uma imponente obra dos tempos modernos.
Convidados a comentar a obra, Manuel Rui Monteiro, que abriu o referido volume com o texto “Nós e o Ruacaná”, socorrendo-se do tempo da sua juventude ainda como estudante, recordou o seu tempo no colégio local, assim como as festas de finalistas que realizava no Cinema Ruacaná, na cidade baixa, a época de luta na clandestinidade, as vivências, entre outros aspectos.
Emocionado, o escriba admitiu que “é tão bom sonhar” e, satisfeito com uma grande dose de alegria e inspiração, cantou com a plateia o poema “Adeus à Hora da Largada”, do também escritor, Poeta Maior, António Agostinho Neto.
Já Fernando Oliveira, ao situar os leitores no tempo e no espaço, referiu que a obra surgiu da iniciativa de Manuel Rui, propondo-lhe que escrevesse sobre o Cinema Ruacaná, que mais frequentava naquela altura.
Reviver o passado Por sua vez, a docente e governante Ângela Bragança, indagada quanto ao momento e ao impacto do recém-lançado volume, referiu que foi um momento importante de memórias cantarem juntos e viver um pouco a história.
Realçou que o livro traz, precisamente, a história, o reviver da história, juntando relatos das vivências de cada um e informar todo o que foi a participação na luta pela libertação nacional.
“Foi emocionante ver o Manuel Rui Monteiro, mesmo com muitas limitações, do ponto de vista de saúde, incentivar-nos a cantar, como cantar `O Adeus a Hora da Largada´, foi um momento muito bom”, disse Ângela Bragança, incentivando os organizadores do evento a repetirem esta informalidade, de modo a que cada um conte a um e ouça da sua história, que é a história dos 50 anos e mais, neste país.









