Na aldeia Nzambi, no município do Uíge, a tradição da olaria tem passado de geração em geração, preservada pelas mestres artesãs, pelas mulheres intermédias e pelas mais jovens que se iniciam na arte. Cabaças, moringues e panelas de barro compõem o conjunto de peças produzidas com técnicas ancestrais, mantidas vivas pela comunidade
Há quase um ano, a aldeia ganhou novo impulso com a chegada do projecto “Mãos, Identidade e Património”, da Fundação BAI, uma iniciativa que, ao reconhecer que a comunidade trabalhava de forma artesanal e com reduzida rentabilidade, instalou um centro de formação com professores qualificados. O espaço passou a acolher mulheres, jovens, crianças e homens interessados em aprimorar os seus conhecimentos e valorizar o seu trabalho.
A anciã e mestra da olaria, Maria Manuel, de 60 anos, conta que aprendeu a arte ainda criança, com a avó já falecida. Desde então, dedica-se a transmitir o legado às filhas, netas, sobrinhas e a qualquer pessoa da comunidade que manifeste interesse.
Apesar da experiência acumulada, Maria continua a frequentar as aulas do projecto. “Antigamente fazíamos mais actividades do campo e da caça. A produção de olaria era pouca e o dinheiro servia apenas para ajudar na cozinha. Hoje aprendemos outras formas de fortalecer o produto e melhorar a qualidade.
O preço também mudou”, afirmou, sorridente. A artesã explica que o barro é recolhido junto aos rios e misturado com a argila peneirada e molhada. Depois de modelado sobre a mesa, o material segue para o forno, onde ganha forma definitiva.
Rendimento que transforma vidas
A melhoria das técnicas trouxe impacto directo na vida das famílias, segundo explica a jovem Francisca Miguel, que o trabalho é organizado em grupo e que, durante participações em feiras, os rendimentos são distribuídos conforme as vendas de cada membro.
O grupo reúne mais de 90 mulheres, além de alguns homens e crianças. “Agora já penso em voltar a estudar. Com as vendas conseguimos economizar dinheiro, comprar medicamentos, roupas e calçados. A nossa realidade mudou muito. Estamos felizes com o projecto”, declarou.
A adolescente Joaquina Jorge também participa das actividades. Frequenta primeiro a escola e, depois, as aulas de olaria. “Gosto de ver o desenvolvimento da aldeia. Aconselho as meninas da minha idade a aprenderem esta profissão que as nossas mães e tias têm mantido com tanta responsabilidade.”
Preservar o património e fortalecer a economia Para a presidente da Fundação BAI, Inacilina de Carvalho, o projecto “Mãos, Identidade e Património” é uma forma de proteger e valorizar conhecimentos essenciais à identidade cultural angolana.
Segundo a responsável, técnicas como as da olaria, cestaria e joalheria representam a riqueza da herança do país e contribuem para o desenvolvimento económico, ao gerar oportunidades de emprego e empreendedorismo, especialmente para as mulheres, valorizando talentos e saberes endógenos.
Inacilina acrescenta que, ao promover e preservar estas práticas, fortalece-se não apenas o património cultural, mas também um segmento capaz de impulsionar o turismo e dinamizar a economia da cultura.









