Recentemente, a Embaixadora da União Europeia em Angola sugeriu que os salários no Corredor do Lobito devem “seguir padrões europeus”. À primeira vista, a declaração parece progressista e bem-intencionada. Mas, quando analisada à luz da realidade económica angolana, revela-se superficial, descontextualizada e, sobretudo, perigosa para um país ainda em busca de equilíbrio social e produtivo.
A Europa que se propõe como modelo não aplica sequer um padrão salarial único em seu próprio território. Os salários mínimos variam enormemente entre países como Luxemburgo, Bulgária ou Portugal. As diferenças são justificadas pelas condições económicas, custo de vida, produtividade e políticas fiscais locais.
Por que, então, impor a Angola um modelo que nem a União Europeia consegue padronizar internamente? O Corredor do Lobito é, sim, uma oportunidade estratégica para Angola. Mas desenvolver uma única faixa geográfica com salários artificiais e impostos externamente é criar uma ilha de privilégio num mar de desigualdade nacional. Isso pode gerar um êxodo interno, aumentar o custo de vida naquela região e aprofundar as desigualdades com outras províncias já esquecidas.
Angola precisa de desenvolvimento, sim, mas com os pés firmes na sua realidade. A economia angolana ainda é marcada por uma elevada taxa de informalidade, baixo nível de industrialização e grandes disparidades regionais.
O que precisamos não são salários europeus em corredores logísticos, mas reformas estruturais nacionais que valorizem o trabalho, ampliem a produtividade e promovam dignidade de forma sustentável e local.
É urgente: – Estabelecer salários mínimos regionais progressivos, adaptados ao custo de vida e à realidade local; descentralizar o investimento público e privado, para que o desenvolvimento alcance o interior do país; incentivar a capacitação técnica da juventude, ligando formação à empregabilidade.
É também urgente criar políticas de inclusão económica para populações vulneráveis, especialmente pessoas com deficiência e mulheres chefes de família, e acima de tudo, preservar a soberania na definição de modelos de desenvolvimento, com base em dados e não em pressões diplomáticas.
A cooperação internacional é bem-vinda. Mas ela precisa ser construída com respeito mútuo e entendimento profundo das realidades locais. Angola está a construir o seu próprio caminho com a nossa identidade, os nossos desafios e as nossas soluções. Desenvolver não é copiar: é incluir, respeitar e crescer com base em quem somos.
Por: DIOGENES LENGA
Economista









