Já não me recordo de quem terá sido a tirada. Mas terá sido de um ministro ainda em funções que surgiu, há alguns meses, a insinuação de que os próximos milionários no país poderão sair da agricultura, uma área que, nos últimos tempos, vai dando sinais de desenvolvimento no âmbito da diversificação da economia. Aos poucos, alguns dos jovens que há alguns anos se aventuraram no sector, que antes do mandato do Presidente João Lourenço recebiam uma fatia do Orçamento Geral do Estado muito baixa, começam a ver os seus esforços recompensados e até a colherem os frutos daquilo que poucos acreditavam.
Na edição deste jornal, é agradável ver na entrevista do jovem agricultor Nelson Rodrigues, de 42 anos, por sinal um dos maiores produtores de feijão do país, que agora se prepara para poder inundar o território angolano com arroz e milho também a serem produzidos a partir de Benguela, sua terra natal.
À semelhança de muitos outros jovens que se vão destacando no sector agrícola, também começou de baixo, acreditando nas suas potencialidades e valências, o que lhe possibilita até hoje produzir enormes quantidades do cereal depois de ter obtido um financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola. Num país de enormes potencialidades, a nível de terras aráveis e recursos hídricos, haverá quem ainda possa querer colocar em cheque o que se vai fazendo por muitos angolanos.
Há uma maioria de críticos que, enquanto uns fazem e os exemplos são cada vez mais flagrantes, procuram associar o sucesso de muitos a supostos favores políticos e outros às suas imaginações como se não existissem entre nós aqueles que têm, na realidade, o dom do bem fazer as coisas.
Quando hoje vemos jovens bem-sucedidos como Nelson, Alfeu Vinevala e Felisberto Capamba, verdadeiros produtores de cereais nas regiões centro e sul, a abrirem até fábricas, as más línguas preferem associar o sucesso destes a factores externos das suas imaginações, quando por trás há trabalho, sacrifício e resultados que fazem com que os milhões que estes lucram não devam ser invejados sequer.
A agricultura, como já se pressagiava há muito tempo, vai- se tornando nos dias que correm uma área extremamente apetecível, sobretudo num país como o nosso, em que as necessidades por alimentações e outros produtos vindos do campo crescem a cada dia. Com agora perto de 40 milhões de habitantes, Angola continuará a precisar de alimentos, o que torna o mercado cada vez mais atractivo para quem faz do campo o seu ganha pão.
Quando se olha para o elevado número de jovens desempregados, muitos dos quais até com formação superior em áreas ligadas a outros ramos, penso sempre na capacidade que o sector agropecuário tem para receber muitos destes. Não que todos tenham de lavrar a terra, mas, de forma directa e indirecta, há muitas oportunidades que o campo pode abrir para muitos angolanos. A velha ideia que muitos ao longo dos anos criaram de que estar no campo poderia ser sinónimo de não desenvolvimento vai-se esfumando.
São hoje vários os casos de sucesso de indivíduos muito bem-sucedidos que se afastaram das grandes cidades há muito tempo para se refugiarem nas suas lavras, fazendas ou quintas, de onde parte quase toda a alimentação que chega às nossas mesas e outros produtos. Há dias debatia com um jovem numa rede social por conta da importação de um contentor de abacate para a Europa.
Diziam estes que era pouco e não se deveria dar o destaque que se deu em relação a isso, porque se estava a querer tirar algum proveito político.
A única coisa que o aconselhei foi o seguinte: ‘‘se vive numa zona com muita produção de abacate, que às vezes até menosprezamos, o melhor seria o produto como uma riqueza, porque em muitos países é um bem não ao alcance de muitos’’.






