Nelson Mário Marcos Rodrigues ou, simplesmente, Nelson Rodrigues (NR), como é conhecido nas lides agrícolas, é um jovem que, desde muito cedo, se lançou ao sector agrícola, “empurrado” para o mundo do agro-negócio pelo seu pai, o salineiro Manuel Rodrigues. Nesta entrevista ao Jornal OPAÍS, o jovem agricultor, de 42 anos de idade, que é um dos maiores produtores de feijão na região centro-sul do país, a partir do vale do Dombe-Grande, aborda, de for ma sucinta, o seu percurso, fala da forma como a banca, nos dias de hoje, encara o sector agrícola, sem deixar de sugerir ao Estado que promova um casamento per feito: a aposta tanto na agricultura quanto na indústria transformadora. Sentir-se-á realizado quando puder inundar o mercado com “mil hectares de feijão”
Gostaria de perceber quais foram os seus primeiros passos na agricultura. Quem lhe incentiva?
Estou na agricultura já há 20 anos. O incentivo partiu, a princípio, do meu pai, quando eu tinha, na altura, 16/17 anos e esta va a terminar o meu médio. Então, com a iniciativa do meu pai, todos os fins-de-semana ia para o campo. Fui criando aquele amor e paixão com as plantas. E, no decorrer dos anos, o meu pai mudou de profissão e eu acabei por ficar no campo. É aí onde começou a trajectória.
O seu pai vai para o sector do sal, precisamente no segmento do sal, certo?
Sim. O meu pai vai para o ramo do sal. Ele, na altura, é que fazia as coisas. E eu dei sequência à actividade agrícola.
Na altura, qual foi a sua primeira plantação?
O meu pai, naquela altura, era muito forte na cultura de batata rena. A batata-rena era um produto pouco comercial, porque entrava muita batata-rena da Namíbia. Mas era a cultura que nós fazíamos em grande escala.
Então houve incentivo do lado do meu pai na altura da batata-rena, onde não tinha poderes de venda satisfatórios, por causa do merca do. O mercado era inundado com a batata-rena da Namíbia.
Deu lhe aquele desânimo e começou a apostar mais no ramo das salinas. E eu fiquei com a cultura da batata, porque era uma coisa que eu já dominava. Posteriormente, comecei a fazer campos de tomate e cebola. Nada em grande escala. Foi sempre com um, dois hectares e fui bebendo também da experiência de outros agricultores que já estavam na agricultura há mais de dez anos. E ali começou. Deixei de começar a fazer a batata e comecei a fazer tomate, cebola, pepino, feijão – e faço até hoje.
Na altura, não se sentiu abando nado face à retirada do seu pai do ramo da agricultura?
A princípio não, porque, como se diz na gíria, já estava viciado, por que foi o meu primeiro emprego e já foi amor à primeira vista. Simpatizei com a agricultura desde muito cedo. Ele, quando abandonou, até fiquei mais aliviado. Pensei: ‘agora vou tentar mostrar o que eu aprendi’. Uma coisa é fazer ao lado do pai, outra coisa é fazer sem o pai. Era oportunidade de mostrar que eu conseguia fazer sem o meu pai. Daí dei sequência a esse trabalho até hoje.
Nunca se sentiu como que “seduzido” a abandonar a agricultura e rumar para um outro segmento?
Isso já aconteceu ‘n’ vezes. É ver dade que o nosso mercado está sempre a oscilar. Há momentos em que nós ficamos com toma te em grande escala e não temos mercado. Da mesma forma que já aconteceu com a cebola, com o feijão. Já houve motivos suficientes para desistir da agricultura, mas não, nós temos agricultura no coração e sabemos que novos dias virão, por isso é que nós estamos aqui até hoje, commomentos baixos e altos. Mas, também, aprendemos com o processo. Nós temos a nossa empresa como um processo. Começamos de baixo e é da mesma forma na agricultu ra. Começamos com poucos hec tares.
Começou com quantos hectares?
Com três, quatro hectares. Agora estamos a trabalhar numa área de 400 hectares. O que é que isso quer dizer? Nós fizemos alguma organização, para não depender mos 100 por cento só da agricultura. Sempre que nós ganhamos algum dinheiro, investimos em mais um ou dois tractores. Amanhã, quando a cultura não estiver a dar, podemos fazer alguns trabalhos fora. E já dá algum dinheiro.
Conseguimos pagar os salários. Compramos um camião para também dar um suporte à empresa. Com alguns lucros da fazenda, conseguimos abrir a primeira loja, para poder suprir essa necessidade, quando a empresa apanha uma situação difícil. Por exemplo, este ano nós fizemos muito feijão e foi um mau ano. O preço estava muito baixo, o preço não subiu.
Praticamente, o feijão este ano só conseguimos recuperar o investimento da fazenda. Se nós não tivéssemos outros recursos, outras empresas segmenta das à fazenda, seria um prejuízo muito grande. E, por causa desse segmento, nós continuamos com os nossos projectos. Tivemos um prejuízo no feijão, mas já estamos com outra cultura, que é a cebola. Já começamos a colher. Já temos lá 100 hectares e estamos a conseguir manter a empresa.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela









