A União Africana (UA) e a Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) condenaram ontem a tentativa de golpe de Estado no Benim, classificando-a como uma “subversão da vontade do povo beninense”
O presidente da Comissão da UA, Mahmoud Ali Youssouf, condenou a tentativa de golpe no Benim, sublinhando que “qualquer forma de interferência militar em processos políticos constitui uma grave violação dos princípios e valores fundamentais” do bloco. Em comunicado, lembrou que os quadros normativos da UA “rejeitam categoricamente” a intervenção militar na governação e afirmam a primazia da ordem constitucional e da legitimidade democrática “como pilares da paz e da estabilidade no continente”.
Youssouf apelou aos envolvidos para que cessem “imediatamente todas as acções ilegais”, respeitem a Constituição e regressem às suas funções legítimas. Manifestou ainda preocupação com a proliferação de golpes na região, alertando que tais acções minam a estabilidade continental e corroem a confiança dos cidadãos nas instituições públicas.
O responsável reiterou a “tolerância zero” da UA para mudanças inconstitucionais de governo e expressou apoio ao Presidente o Benim, Patrice Talon, e ao povo beninense. A CEDEAO também condenou “veementemente este acto inconstitucional”, classificando-o como “subversão da vontade do povo beninense”, e elogiou o governo e as Forças Armadas por restabelecerem a ordem.
O organismo prometeu apoiar o Benim na defesa da Constituição e da integridade territorial. Patrice Talon, de 67 anos, empresário conhecido como o “Rei do Algodão”, cumpre o segundo mandato iniciado em 2021 e já anunciou que não se recandidatará em 2026, conforme a Constituição do Benim. O ministro da Economia e Finanças, Romuald Wadagni, foi designado candidato presidencial pela coligação governamental.
O candidato da oposição, Renaud Agbodjo, foi rejeitado pela comissão eleitoral, que alegou falta de patrocinadores suficientes. O ministro do Interior, Alassane Seidou, confirmou que “um pequeno grupo de soldados organizou um motim para desestabilizar o Estado”, mas destacou que as Forças Armadas “mantiveram-se republicanas” e frustraram a manobra.
Horas antes, militares rebeldes tinham anunciado na televisão pública a criação do Comité Militar para a Refundação (CMR), liderado pelo tenente-coronel Pascal Tigri, declarando a destituição de Talon, o encerramento das fronteiras e a dissolução da Constituição.
Não há notícias oficiais sobre o presidente Patrice Talon desde que foram ouvidos tiros nos arredores da residência presidencial. O sinal da televisão estatal e da rádio pública foram cortados após o anúncio militar. A Guarda Republicana, porém, retomou o controlo da estação e neutralizou os insurgentes. Após a independência da França, em 1960, este país da África Ocidental sofreu vários golpes de Estado, sobretudo nas décadas a seguir à independência. Desde 1991, o país tem estado politicamente estável após duas décadas de governo do marxistaleninista Mathieu Kérékou.
Em Janeiro, dois associados de Talon foram condenados a 20 anos de prisão por uma suposta conspiração para um golpe de Estado, em 2024. No mês passado, o poder legislativo do país prolongou o mandato presidencial de cinco para sete anos, mantendo o limite de dois mandatos. O aparente golpe que o ministro do Interior afirma ter sido “frustrado” é o mais recente de uma série de insurreições que abalaram a África Ocidental.
O último data de Novembro, na Guiné-Bissau, onde um grupo de militares tomou o poder, destituindo o Presidente Umaro Sissoco Embaló, suspendendo os resultados das eleições de 23 de novembro e empossando o general Horta Inta-A como presidente de transição por um ano.









