Há dores que pesam mais do que o corpo aguenta, feridas que parecem não fechar e silêncios que gritam tão alto que chegam a sufocar. E, diante desse aperto no peito, muitos encontram no álcool aquilo que parece ser uma saída rápida, quase mágica: uma pausa.
Uma anestesia. Um intervalo entre o sofrimento e a consciência. A frase “bebo para esquecer” é repetida pelo mundo afora, atravessa gerações e culturas. E, por trás dela, existe quase sempre alguém a tentar segurar os cacos da própria vida, alguém que acredita, mesmo que por instantes, que um gole pode aliviar o peso do mundo. Mas a verdade, meu irmão, minha irmã, é que o álcool não apaga dores.
Só as embacia. Não resolve problemas. Apenas adia. Não liberta. Apenas adormece… e quando desperta, traz consigo uma factura emocional ainda maior. O efeito passa. Sempre passa. E quando passa, os problemas voltam.
Voltam com a mesma força de antes… às vezes duas vezes mais fortes. E, para completar, regressam acompanhados de mais alguns estragos: palavras que nunca deveriam ter sido ditas, decisões das quais nos arrependemos, conflitos que poderiam ter sido evitados, relações que se fragilizam. A grande armadilha é que o álcool dá coragem.
Mas é uma coragem falsa, impulsiva, sem direção. Uma coragem que nos empurra para frente sem mostrar o chão. E é por isso que precisamos falar disto com carinho, sem julgamento, sem apontar o dedo. Porque ninguém bebe para esquecer coisas leves.
Quem bebe para esquecer, bebe porque carrega algo pesado demais para carregar sozinho. A questão é: E se, em vez de anestesiarmos a dor, aprendermos a tratá-la? E se, em vez de fugir, nos permitíssemos enfrentar? E se, ao invés de álcool, procurássemos apoio? Conversa? Terapia? Oração? Movimento? Caminhada? Uma pessoa de confiança? A vida já é dura o suficiente. Não precisamos torná-la ainda mais difícil com escolhas que nos afastam da nossa própria cura.
Se está a doer, peça ajuda. Se o peso está grande, partilhe com alguém. Se o coração está cansado, permita-se descansar nos braços de Deus. Lembre-se: Beber não faz esquecer. Beber faz adiar. E cada dor adiada volta maior.
O verdadeiro alívio vem quando encaramos a origem da ferida, quando aceitamos que não somos super-humanos e que precisamos uns dos outros. Vem quando paramos de lutar sozinhos e começamos a caminhar acompanhados.
Escolha a cura, não a fuga. Escolha a consciência, não a anestesia. Escolha a vida, não o alívio temporário. Que Deus abençoe a sua jornada e lhe dê a serenidade necessária para lidar com aquilo que dói, sem recorrer a atalhos que machucam ainda mais.
Por: Lídio Cândido (Valdy)
N’gassakidila.









