O Chefe de Estado recordou que a Rússia, então União Soviética, desempenhou um papel determinante nas lutas de libertação no continente africano, apoio pelo qual “os povos africanos estão eternamente gratos”. No entanto, sublinhou que a gratidão histórica não condiciona a visão actual de África sobre o direito internacional
“África defende a justiça e os princípios. E, por isso, defendemos, tal como no nosso próprio percurso, o direito à independência, à soberania e à integridade territorial da Ucrânia”, disse João Lourenço, acrescentando que a invasão do território ucraniano constitui uma violação clara destes princípios. Sobre a possibilidade de África alinhar-se politicamente com a Rússia no conflito, João Lourenço foi directo: África não pretende ser arrastada para agendas externas, mas sim defender coerentemente o multilateralismo e o respeito pela Carta das Nações Unidas.
Costa garante alinhamento euroafricano no multilateralismo
Já António Costa reforçou a mesma leitura quando questionado sobre se a África estaria hoje mais próxima da posição europeia relativamente à Ucrânia. O Presidente do Conselho Europeu remeteu para a declaração conjunta aprovada pelas duas organizações continentais e referiu que os pontos 4 e 5 reafirmam o compromisso com a Carta da ONU e o apoio a “uma paz justa, compreensiva e duradoura” na Ucrânia, na Palestina, no Sudão, na RDC, no Sahel e noutros teatros de conflito.
António Costa salientou que já não existem conflitos puramente locais ou regionais, e que permitir que um Estado viole fronteiras reconhecidas internacionalmente abre caminho ao colapso da ordem multilateral. “A alternativa à ordem baseada em regras é simplesmente o caos”, afirmou.
África e UE negam receios de neocolonialismo
Questionado sobre os receios de que a presença europeia no continente possa adoptar uma lógica neocolonial, João Lourenço afirmou que a “melhor garantia” é a confiança construída ao longo dos 25 anos de parceria estratégica entre África e Europa. Já António Costa acrescentou que esta confiança é sustentada pelos projectos concretos que valorizam o “maior recurso de África: o seu capital humano”. Destacou ainda que a União Europeia (UE) continua a ser o maior investidor privado em África, e lembrou que a Zona de Comércio Livre Continental Africana abre novas oportunidades de industrialização.
As iniciativas europeias de infra-estruturas, formação e investimento industrial, bem como o fabrico de vacinas, têm como objectivo gerar valor dentro de África, evitando lógicas extrativistas do passado. Uma última pergunta incidiu sobre a principal lição a retirar das sete edições da Cimeira UA-UE. Para António Costa, a resposta é “simples”: trabalhar juntos pela paz e prosperidade através do multilateralismo.
Por sua vez, o estadista angolano reforçou que estas cimeiras enviam ao mundo um sinal oposto ao da crescente confrontação global. “O caminho é a parceria. Só ela permitirá desenvolver os nossos países e melhorar a vida dos nossos povos”, afirmou, numa defesa clara da cooperação e da ordem internacional baseada em regras.









