A Associação Nacional dos Amigos do Reggae em Angola (ANARA ) manifestouse profundamente consternada com a morte do ícone jamaicano Jimmy Cliff, falecido na segunda-feira, 24, aos 81 anos de idade, em sua terra natal, Kingston, na Jamaica, vítima de pneumonia
Ao reagir sobre o passamento físico da lenda jamaicana do reggae, o presidente da ANARA, Mário Kaley, artisticamente conhecido por Ras Sassa, considerou ser uma perda irreparável e uma situação que deixa os amantes do reggae com um vazio no coração.
“É uma notícia que nos apanhou completamente desprevenidos. Numa altura em que estamos a preparar mais uma edição do festival Bob Marley, receber esta notícia deixou-nos completamente tristes”, expressou o também artista e activista cultural. Ras Sassa recordou que Jimmy Cliff era uma biblioteca viva da história mundial do reggae, um mestre da arte e da vida cujos ensinamentos deram origens a vários nomes importantes do referido estilo musical, entre eles Bob Marley.
Segundo o líder da ANARA, antes mesmo de Marley entrar para o mundo da música e ser popularmente conhecido, Cliff já era uma lenda da música internacional e servia de referência para Marley e outros jovens promissores da época. “É bem verdade que as pessoas conhecem mais o Bob Marley e Petter Tosh, mas Jimmy Cliff é o ícone number one do reggae, ele foi praticamente um mestre para todos os artistas que vieram a seguir, como é o caso do próprio Marley, Tosh e de outros artistas de renome do reggae”, disse.
O mesmo recordou com sombrio o momento em que esteve na mesma actividade que Cliff, na década de 90, em Paris, onde fez parte de uma banda musical que acompanhou um dos concertos de 50 anos de Bob Marley, realizado na capital francesa e cujo espectáculo foi dirigido por Jimmy Cliff, na época.
“Nunca vou esquecer aquele momento, vai ficar para sempre na minha memória”, expressou com nostalgia o artista angolano. Ras Sassa afirma que o legado de Cliff vai ser sempre lembrado e respeitado pelo mundo inteiro porque a arte que ele fazia rompia barreiras e unia diferentes povos e nações.
Cliff já esteve em Angola na década de 1990
Além do responsável da ANARA, quem também se recorda de um momento que teve com a lenda jamaicana é o realizador Nguxi dos Santos, que teve a oportunidade de acompanhá-lo durante a sua visita a Angola, na década de 1990. Nguxi dos Santos recorda que Cliff esteve em solo angolano numa época sensível, na altura em que o país estava a enfrentar o conflito armado e o músico vinha com a missão de ajudar a conquistar a paz através da música.
“Na altura ele estava a fazer uma tournée pelos vários países de África e aqui em Angola, ele chegou numa altura de conflito e ele fez questão de visitar não apenas Luanda, mas de chegar até ao Huambo, onde visitou o centro de produção de próteses e chegou de fazer uma canção a apelar à paz em Angola”, recordou o realizador. Contou que, na altura, apesar de não ser um rastafári de religião, Cliff era um muçulmano que mostrava ter coração, humanismo e empatia e que sempre deixava transparecer na sua arte este seu lado.
Recordou que era um artista que sempre defendia a paz, a união, o respeito mútuo, a igualdade de todas as raças e levava a sua arte a vários países que enfrentavam conflitos, fome ou calamidades naturais. Sem esconder a sua tristeza, Nguxi dos Santos assinalou que Cliff foi uma biblioteca viva do reggae e que a sua arte vai estar sempre presente no seio dos amantes da música reggae. “Ele era uma biblioteca que a gente tinha no reggae e, apesar de ter estado numa idade avançada, a morte dele deixa-nos com certeza tristes e com vazio no coração”, exprimiu o também jornalista e cineasta.
O anúncio da morte
A morte do cantor e compositor jamaicano Jimmy Cliff, de 81 anos, foi anunciada pela família através de uma nota divulgada nas redes sociais do artista, nesta segunda-feira, 24.
Sem avançarem detalhes sobre o velório, os familiares pediram apenas privacidade neste momento de luto e informaram que detalhes sobre as cerimônias de despedida serão divulgados posteriormente. Jimmy Cliff era considerado um dos percursores da internacionalização do reggae, influenciando gerações de músicos com seu trabalho.
Durante a carreira, o artista conquistou dois prêmios Grammy, com os álbuns “Cliff Hanger”, de 1985, e “Rebirth”, lançado em 2012. Em 2010, o músico recebeu um outro importante reconhecimento ao ser incluído no Rock and Roll Hall of Fame, consolidando seu legado na história da música mundial.









