Vários cidadãos celebraram a II edição do projecto “O Semba”, que decorreu de 13 a 16 do corrente mês no Palácio de Ferro, num evento misto com muitas atracções, desde feiras com produtos de artesanato, roupas, calçados, mesa-redonda e show musical abrilhantado por vários conjuntos musicais e artistas distintos
Trata-se dos agrupamentos Semba Muxima, Nguami Maka e dos músicos Prado Paim, Tonicha Miranda, Calabeto, Patrícia Faria, Dina Santos, Pedro Cabenha, Filipe Mukenga, Mig, Mário Gomes, Botto Trindade, Kanu André, Claudete Tchizungo, Dom Caetano, entre outros, com o suporte instrumental da Banda Dizu Dietu e da Banda Ondjango. Numa das actuações, ritmos e temas como “O mundo” e “Maka Mamy”, do cantor Mig, levaram o público ao rubro, com aplausos intensos.
O público acompanhou as canções e muitos aproveitaram para dar um pé de dança, o que deixou o artista visivelmente emocionado pelo carinho contagiante da plateia. Já o conjunto Semba Muxima, com mais de trinta anos de existência, detentor dos álbuns ITA (1996), Kangoia (1998) e Ua Jiza (2004), apresentou várias performances.
Para o director artístico, Manuel Gomes, pelo facto de a festividade coincidir com os cinquenta anos de independência nacional, apresentaram, do seu vasto reportório, a música “Caxa”, letra e música muito cantadas no período fúnebre do primeiro Presidente António Agostinho Neto, actualmente interpretada em várias versões. “Trouxemos muita alegria e cor a todos os visitantes”, ressaltou.
Com o seu traje branco característico, aos ritmos tradicionais angolanos, e com os temas “Som angolano” e “Uejia Kussokana”, Dom Caetano levou novamente o público ao rubro. Com mais de quarenta anos de carreira artística, disse que este palco representa um marco inseparável da vida quotidiana, na medida em que o Palácio de Ferro, com este projecto cultural, é um símbolo para todos os artistas deste género musical.
“O Semba foi elevado actualmente à categoria de Património Cultural Imaterial e em breve será Património Mundial”, disse. No seu ponto de vista, estão a encontrar parceiros dignos de reconhecimento da actividade que exercem, e sente-se satisfeito com o esforço muito grande que se faz para reunir as pessoas à volta do semba, numa altura em que a influência da música estrangeira cresce com muita força em todo o país e entre a juventude particularmente.
“Ao longo dos cinquenta anos de independência nacional, foi um trabalho árduo; considero ter dado a melhor contribuição possível, embora não fique por aí, e vamos continuar a trabalhar. Temos que continuar a elevar o Semba a Património Mundial; precisamos de realizar um trabalho mais profundo para o reconhecimento da nossa cultura”, destacou.
Passagem do legado
Questionado sobre a passagem do legado para a nova geração, se está a ser bem-feita, Dom Caetano destacou que é oriundo de uma geração intermédia, onde bebeu da experiência e aprendeu tudo o que sabe actualmente sobre o Semba.
Apesar de que alguns artistas ainda vivem, outros já não, a todos dedica a devida vénia e respeito. “Sou de uma geração intermédia, onde bebi da exposição de Filipe Mukenga, Calabeto, Prado Paim, Carlitos Vieira Dias, Carlos Lamartine e de muitos mais velhos. Alguns já não fazem parte deste mundo, mas os seus ensinamentos continuam vivos”, afirmou com satisfação.
Ao seu ver, a geração que veio após a sua também tem realizado um trabalho digno de reconhecimento, com nomes sonantes como Yuri da Cunha, Matias Damásio e Paulo Flores em alta montra, entre tantos outros.
Por outra, admitiu que também receberam bem o legado e estão a desenvolver um excelente exercício nas suas carreiras, a par de compreender que devem lutar para que a geração seguinte seja ainda mais cuidada na apresentação do semba como cultura e identidade do país.









