Vivemos um período de mudanças profundas e aceleradas. O século XXI irrompeu com uma força transformadora que reconfigurou os alicerces da sociedade, da economia e, consequentemente, da própria essência da liderança.
No contexto de Angola, e no cenário global, o papel do líder transcendente já não se restringe à gestão de recursos; hoje, liderar é, acima de tudo, ser um agente de mudança com um olhar estratégico e, sobretudo, humano.
Ao longo de mais de duas décadas dedicadas à gestão bancária, aprendi que o conhecimento técnico e a experiência profissional são apenas o ponto de partida.
A verdadeira liderança, na nossa realidade, exige sensibilidade para apreender o momento presente, coragem para a tomada de decisões difíceis e, acima de tudo, a capacidade de inspirar e preparar novos líderes.
A liderança eficaz, nos dias de hoje, mede-se, não por cargos, mas pelo impacto que deixamos nas equipas, tornando-as criativas, resilientes e orientadas por um propósito que vai além dos meros indicadores financeiros. O mundo corporativo tornou-se mais exigente e multifacetado, com a tecnologia a alterar profundamente a forma como comunicamos e trabalhamos.
Em Angola, onde sectores como o bancário enfrentam desafios específicos – desde a inclusão financeira à imperativa digitalização dos serviços –, o líder precisa de ser mais do que um gestor.
Ele deve ser um estratega com uma profunda visão humana. Lidar com esta nova e complexa realidade requer, antes de mais, humildade. Já não é suficiente apenas ocupar uma posição de chefia. É preciso saber ouvir atentamente, aprender com os outros e reconhecer que a competência técnica, embora fundamental, já não basta para liderar.
Portanto, o que distingue um bom líder hoje é, em grande medida, a sua inteligência emocional, a capacidade de gerir conflitos com maturidade e de criar ambientes onde os colaboradores se sintam genuinamente valorizados e motivados a contribuir. Além disso, uma das maiores lições que a vida profissional me ofereceu é que liderar é, em sua génese, servir.
O líder do século XXI deve estar ao serviço da sua equipa, da sua organização e, em última instância, da sociedade. Deve propor caminhos colaborativos, não impor regras rígidas.
Deve fomentar a confiança, em vez de recorrer ao controlo exssivo. Esta mudança de mentalidade é crucial para que as instituições se tornem mais ágeis, mais humanas e mais preparadas para o futuro que se desenha. No sector bancário, a confiança é, por exemplo, um dos bens mais preciosos. No entanto, esta confiança não nasce apenas das transacções ou dos balanços; ela floresce no interior das organizações, nas tomadas de decisões transparentes e na forma como cultivamos a ética no nosso diaa-dia.
A maneira como tratamos os nossos colaboradores e comunicamos as nossas escolhas são factores determinantes para o sucesso sustentável de qualquer organização. Liderar no século XXI é um exercício constante de equilíbrio entre o legado que herdámos e a necessidade imperiosa de reinvenção. É fundamental reconhecer o valor da nossa tradição e experiência, mas sem receio de questionar e de descontinuar o que já não serve ao nosso progresso.
Em Angola, temos a oportunidade ímpar de construir modelos de liderança que respeitem profundamente a nossa identidade e sensibilidade cultural, ao passo que dialogam de forma produtiva com as melhores práticas internacionais de gestão.
Para a reflexão, proponho as seguintes questões:
• Estamos a formar líderes com visão e carácter, ou apenas gestores de recursos?
• Como estamos a preparar as novas gerações para liderar num mundo de incertezas?
O investimento contínuo em educação, em programas de mentoria e numa cultura organizacional robusta é mais urgente do que nunca.
Partilhar experiências, ideias e reflexões, tal como se propõe neste espaço, é um dever de quem já percorreu parte do caminho. É com este espírito que me proponho a contribuir para o debate aberto sobre o futuro da liderança e da gestão no nosso país.
Por: IVANNO GAMA
Gestor bancário









