Cinco décadas. Meio século. Um caminho que começou a ser trilhado muitos anos antes da Independência, por intermédio de intrépidos nacionalistas, viu coroados os esforços na madrugada de 11 de Novembro de 1975, quando o Presidente Agostinho Neto, em alto e bom som, anunciou perante a África e o mundo a Independência de Angola.
Pelo caminho ficaram muitos nacionalistas: jovens e adultos, crianças e mulheres, ao longo do percurso sinuoso que hoje permite que mais de 30 milhões de angolanos, independentemente das actuais circunstâncias, ainda possam sonhar.
É por isso que se deve render sempre homenagem àqueles que, desde o processo dos 50 ou antes — a chacina na Baixa de Cassanje, no município do Quela, em Malanje, os acontecimentos de 4 de Fevereiro, em Luanda, e de 15 de Março de 1961, no Uíge — ousaram levantar as mãos, com inteligência, catanas e outras armas, para enfrentar o colonialismo português.
Por este caminho sinuoso, que, após a Revolução dos Cravos de 1974 em Portugal, levou os movimentos de libertação aos Acordos de Alvor, estiveram envolvidos os três principais movimentos de libertação nacional, nomeadamente a FNLA, o MPLA e a UNITA. Mas, a história registou que foi sob os auspícios do MPLA, partido no poder, que se alcançou a Independência — numa altura em que os seus dois principais adversários ainda sonhavam até com a possibilidade de se criar mais um outro país neste mesmo território de 1.246.700 quilómetros quadrados —, de que todos hoje nos orgulhamos.
Angola foi, ao longo destes anos, um misto de vários sentimentos. Uns mais pesarosos, devido ao conflito armado que ceifou vidas desde a época da Independência até 2002, altura em que se alcançou a paz, após a morte de Jonas Savimbi nas matas do Lucusse, no Moxico, durante o reinado do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, que dirigiu o país entre 1979 e 2017.
Apesar do esforço para a reconstrução das infraestruturas, iniciadas após o fim do conflito, e da necessidade de diversificação da economia do país — que se impõe ainda por conta da dependência do sector petrolífero —, os anos que se seguiram, já sob o comando do Presidente João Lourenço, ainda enfrentavam igualmente a necessidade de uma aposta contínua e agressiva nos sectores da saúde, educação, energia e água, e habitação, sobretudo. As áreas tidas como mais críticas pelos próprios angolanos, cuja população continua a crescer a um ritmo acelerado de três dígitos, em contrassenso com o próprio crescimento económico.
Mas, pelo caminho, havia o fantasma da corrupção, descrito anteriormente pelo antecessor de João Lourenço como sendo o segundo mal do país depois da guerra. E era preciso enfrentá-lo — um desafio em curso, mas cujo epílogo ainda está distante —, embora os sinais actuais demonstrem a necessidade imperiosa de se continuar a lutar para que não se perpetue como um dos entraves ao desenvolvimento de Angola.
Cinco décadas depois, apesar de muito que se tenha escrito, o percurso deste país independente ainda continua por se escrever. Cada um dos seus filhos tem, certamente, algumas letras soltas, páginas por narrar e livros por editar sobre os capítulos bons e maus de uma Angola com desafios, mas com um rumo certo. Que depende de todos nós. Viva a independência.









