Em entrevista ao canal CNN Internacional, conduzida pelo jornalista Richard Quest, o Presidente da República, João Lourenço, aborda os marcos dos 50 anos de Independência Nacional que o país assinala amanhã, passando em revista a necessidade da manutenção da paz, da reconciliação nacional, do combate à corrupção, bem como a integração do continente africano
Senhor Presidente, muito obrigado por ter concordado estar connosco! Estou bastante agradecido pelo tempo que nos concede. Vamos começar com o 50.º aniversário. A nova nação de Angola surgiu de um período bastante sangrento e difícil e, por 50 anos, o país tem estado a crescer e a desenvolver-se. O que acha ser o grande ganho que estão a celebrar nestes 50 anos? Bom dia, senhor Richard Quest, bem-vindo a Angola! De facto, o país atravessou um momento muito difícil, desde os primeiros dias da sua Independência.
O país suportou cerca de 27 anos consecutivos de conflito armado, duas invasões externas, a norte e a sul. Felizmente, conseguimos ultrapassar esse longo período difícil. Daí considerarmos que o maior ganho que o país teve nestes 50 anos foi, sem sombra de dúvidas, o alcance da paz, em Abril de 2002. Esse foi o maior ganho. Tudo o resto veio como consequência da situação de paz que o país vive há cerca de 23 anos.
As mudanças que fez quando assumiu o poder, em 2017, tiveram como prioridade o crescimento económico, o que envolve fundamentalmente a reestruturação da economia, concedendo-lhe mais forças de mercado, tornando-a mais virada para o capital. Não foi suficiente?
Sim, de facto, nessa altura, em 2017, quando chegámos à Presidência, a nossa prioridade foi, em primeiro lugar, procurar criar um bom ambiente de negócios para atrair investimento privado, quer interno quer externo, o que tem vindo a er conseguido. Isso é um processo, não se faz num dia.
E os resultados são bons, porque, efectivamente, estamos a conseguir atrair importantes investidores estrangeiros para apostarem os seus recursos aqui no nosso país. Será que encontrou dificuldades em fazer mudanças, mais do que pensava? Particularmente no que diz respeito à corrupção, não há dúvidas de que melhorou dramaticamente a situação económica do país. O país cresceu consideravelmente, mas é um trabalho árduo.
Foi mais difícil do que pensava?
Sim, confirmo. De facto, o combate à corrupção tem sido mais difícil do que imaginava. Embora tenha dito em Lisboa, logo no início do meu primeiro mandato, que, na luta contra a corrupção, eu estava à espera de ser picado pelos “marimbondos”. Essa expressão ficou registada, significava dizer que haveria reacções. Ninguém queria perder aqueles privilégios – entre aspas-, que tinham de mão-beijada.
Portanto, ia ser uma luta, e está a ser uma luta. Eu recordo que, na altura, a lei concedeu um período para que as pessoas entregassem voluntariamente os activos que indevidamente tinham retirado do Estado. Salvo raras excepções, praticamente ninguém o fez. Dessa forma, tivemos de deixar que a Justiça fizesse o seu trabalho, e tem vindo a fazer. E, mesmo assim, aqueles que perderam os tais privilégios continuam a manter resistência, de várias formas.
Pensa que a cultura mudou?
Até certo ponto, a antiga geração já não vai mudar. Mas a cultura deve mudar para a próxima geração. Pensa que há agora entendimento de que a corrupção não é aceite? Há ainda muito trabalho por se fazer? Sim. Nós lançámos a semente e, portanto, a planta está a crescer.
Alguém vai ter que dar continuidade. Eu acredito que, daqui para a frente, nunca mais será como foi antes, porque, de facto, a corrupção prejudicou bastante o desenvolvimento económico e social do nosso país.
Vamos falar sobre o crescimento do país. A economia não petrolífera, a diversificação do sector, é crucialmente importante. Também vossas alianças são muito importantes. Será que terão que escolher entre os Estados Unidos e a China?
Onde está a vossa preferência? Está a falar da necessidade de diversificar a economia angolana, de não depender apenas dos recursos do petróleo. Mas, em relação aos parceiros que Angola arranjou e com os quais deve trabalhar no sentido de atingir o objectivo de reforçar a sua economia, o que posso dizer é que todos são bem-vindos.
Não há necessidade de excluir um para prevalecer outro. Temos boas relações e cooperação económica com vários países, no caso concreto desses países que acabou de citar, nomeadamente os Estados Unidos da América e a China, e outros. O mundo não se resume apenas a essas duas grandes potências.
Percebi. Mas será que têm alguma preferência?
Estão alinhados com os Estados Unidos, com o Ocidente, ou não? Nós optámos pela economia de mercado. E, obviamente, quando se fala em economia de mercado, os Estados Unidos são os principais promotores.
Mas, deixe-me dizerlhe que todo mundo hoje reconhece que a China é a fábrica do mundo. E sendo a fábrica do mundo, naturalmente, não podemos prescindir de cooperação económica com um parceiro tão importante.
Basta dar-lhe um exemplo: quando surgiu a pandemia da Covid-19, todo o mundo recorreu à China para comprar equipamentos – e não me refiro tanto a vacinas, mas toda a outra logística para fazer o combate à Covid 19 -; quase todo o mundo recorreu ao mercado chinês. Porque é aquele que tinha maior capacidade de produção em grandes quantidades e em curto espaço de tempo, quando estávamos sob pressão.
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