A escritora, docente e comunicóloga angolana Yola Castro destacou a literatura como uma arte das experiências humanas vitais, que deve acompanhar a formação humana, social, cultural e intelectual do indivíduo
Yola Castro, que falava ao Jornal OPAÍS, considerou a literatura infantil como a Arte Mãe capaz de moldar, iluminar, despertar e reflectir não só individualmente, mas também ao nível da colectividade.
Socorrendo-se a uma frase do escritor brasileiro Monteiro Lobato, que aludia um país faz-se de homens e livros, a escritora lamentou o facto de, no nosso país, esta ferramenta não ter acompanhado a formação do homem, uma situação que no seu entender tem culminado com vários problemas sociais. A escritora realçou que grande parte das crianças não tem acesso ao livro infantil, tendo acrescentado que a inversão do referido quadro, passa necessariamente pela intervenção da entidade a quem o direito cabe.
“Há décadas o escritor brasileiro Monteiro Lobato dizia que um país faz-se de homens e livros. Mas, infelizmente, no nosso país, essa ferramenta não tem acompanhado a formação do homem”, desabafou. Yola realçou que, em Angola, pouco ou nada tem sido feito em relação ao assunto, uma vez que a edição de livros para infância devia ser uma prioridade.
“Sem livros, não formáramos, mas sim, deformamos”, desabafou Yola Castro, acrescentando que gostaria de ver no país, mais livrarias, onde os promotores de livros ou mediadores desses volumes falassem sobre eles nas escolas, nas ruas e em supermercados onde os pais diariamente vão à busca do pão e do açúcar.
“Eu considero a literatura e a arte das experiências humanas vitais, a que se deve acompanhar a formação humana, social, cultural e intelectual do indivíduo”, disse a escritora.
Exposição às novas tecnologias Questionada quanto ao vício das crianças pelas novas tecnologias, capazes de as influenciar negativamente no seu comportamento, sobretudo nas actividades de leitura, a escritora referiu que, apesar de vivermos tempos em que a maioria tem acesso a essas ferramentas, é possível fazer com que elas olhem o livro físico com apreço, desde que sejam ensinadas sobre a sua importância e a serem selectivas e equilibradas.
“Tudo é importante para o seu crescimento saudável”, realçou Yola Castro, acrescentando que gostaria de ver espaços de leitura nas comunidades, onde pais e filhos, mesmo sem condições para comprar livros, pudessem ler, e que algumas fundações fizessem com que mais crianças tivessem acesso a essa ferramenta de forma gratuita.
Galardão e biblioteca
Indagada quanto à criação e ao objectivo do Prémio Literário, Yola Castro afirmou que o Galardão é uma iniciativa da Biblioteca Contrignorância, do Marçal, criada em 2022, para homenagear a professora e escritora Yola Castro, em prol de todo seu labor à volta da Literatura Infantil e da Educação em Angola. O galardão tem objectivo, estimular o gosto pela escrita e pela leitura e lançar novos escritores.
Este é actualmente o único Prémio Literário Infantil no país, redobrando a responsabilidade da organização e dos patrocinadores, estes últimos, familiares da escritora. Já no que à Biblioteca Contrignorância diz respeito, adiantou que é um espaço de leitura multifacético, criado em 2020 pelo professor Adilson Gonçalves.
Hoje, o espaço é conhecido fora das fronteiras de Angola pela sua forma de acção e o comprometimento para com as várias políticas criadas. Várias crianças, jovens e não só acorrem ao local em busca do saber, entretenimento e não só.
Questionada ainda quanto aos momentos mais relevantes da sua carreira e produção literária, a escritora referiu que a leitura sempre acompanhou todo o seu crescimento e ainda faz parte da sua vida. “Sou alguém de trato fácil, graças aos livros. Olho para o comportamento de muitas pessoas e só tenho a agradecer por ter sido moldada pelos livros”, realçou.









