A vacina que protege contra o cancro do colo do útero está a ser apontada por muitos pais e encarregados de educação como algo que afecta a fertilidade, antecipa (ou corta) o prazer sexual, entre outros aspectos. Médicas lamentam e acrescentam que a função da vacina é apenas a de produzir anticorpos para defender contra o agente causador do vírus do HPV
A campanha nacional de vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV), que previne o cancro do colo do útero, decorre em todo o país desde 27 de Outubro e termina nesta sexta-feira, 7 de Novembro. Apesar dos esforços do Ministério da Saúde, persistem mitos que têm levado muitos pais e encarregados de educação a recusar a imunização das suas filhas.
Entre os mitos mais comuns estão as alegações de que a vacina provoca infertilidade, antecipa o prazer sexual ou reduz o desejo sexual nas adolescentes. Outros rumores referem que se trata de uma vacina ainda em fase de teste ou que tem motivações políticas.
Para esclarecer estas dúvidas, o jornal OPAÍS ouviu a coordenadora provincial de vacinação de Luanda, Filismina Neto, e a médica obstetra e ginecologista Eurídice Chongolola, directora do serviços ambulatórios da Maternidade Lucrécia Paim. Segundo a ginecologista Eurídice Chongolola, não existe qualquer relação científica entre a vacina e a infertilidade.
“Esta vacina foi estudada em milhões de mulheres nos Estados Unidos, Reino Unido e no Ruanda, primeiro país africano a adoptá-la, e comprovou-se que não afecta a fertilidade nem o funcionamento reprodutivo”, assegurou.
A médica explicou que a vacina tem, pelo contrário, um papel essencial na preservação da saúde reprodutiva feminina, ao prevenir o cancro do colo do útero, uma das principais causas de infertilidade em mulheres nos países africanos. “Ao proteger a menina contra o cancro do colo do útero, estamos a garantir mulheres mais saudáveis e férteis no futuro”, destacou.
A especialista também desmentiu a informação de que a vacina ainda se encontra em fase experimental. “A vacina é segura e amplamente utilizada em vários países. Os seus efeitos e benefícios são comprovados e monitorizados pela Organização Mundial da Saúde e outras entidades científicas internacionais”, acrescentou.
A campanha nacional faz parte da estratégia do Executivo para reduzir a mortalidade feminina causada pelo cancro do colo do útero, uma das doenças mais letais entre as mulheres em idade fértil. Isto porque a vacina já foi testada e usada há mais de 15 anos em 120 países e tem aprovação da Organização Mundial da Saúde e também a proteção da agência da FDA, dos Estados Unidos, da Europa, que considerou a vacina a mais estudada na história da medicina.
Para além das meninas, os rapazes também devem ser vacinados
A partir de Janeiro de 2026, Angola vai introduzir oficialmente a vacina contra o HPV no calendário nacional de vacinação, incluindo também os meninos, como já acontece noutros países, para protegê-los de verrugas genitais, cancro da garganta e do pénis. Outro mito que também se ouve muito é que a vacina vai incentivar o início da vida sexual precoce.
A especialista diz que não tem nada a ver, não há nenhuma relação. Entende que se a campanha é dirigida às crianças dos nove aos 12 anos de idade, estas ainda não deviam iniciar a actividade sexual.
“Ao serem vacinadas, quando iniciarem a relação sexual, seja qual for a idade, já estarão protegidas contra o cancro do colo do útero. Pelo que, não é um incentivo, a vacina, para começarem a ter relações sexuais.
Fora de hipótese”, garantiu. A especialista contou ainda que, embora o país vacine primeiramente as meninas, os rapazes também podem ser vacinados contra o HPV, que também pode causar nos homens verrugas, cancro da garganta e cancro do pênis.
Alguns países já estão no calendário da vacina, já vacinam ambos os sexos, tanto meninas como meninos, mas neste momento a prioridade em Angola ainda é para as meninas.









