A docência de Língua Portuguesa traduz desafios complexos no mundo de hoje, que vão além da mera gramática ou literatura. Estes envolvem aspectos pedagógicos, tecnológicos e, essencialmente, socioculturais.
Em Angola, país plurilíngue com o Português como língua oficial, o ensino desta língua assume um papel central não só como meio de comunicação, mas como instrumento de inclusão social, preservação cultural e mobilidade educativa.
Em escala global, professores de Português enfrentam transformações educacionais aceleradas. A digitalização, a literacia multimodal, as exigências de competências comunicativas, e os sistemas educativos que procuram conciliar tradição e inovação pedagógica são realidades comuns.
Há também uma preocupação crescente com o crescimento demográfico nos países lusófonos, o que colocará pressão adicional sobre os sistemas de educação nas próximas décadas. Por exemplo, o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) reporta que, segundo projecções da ONU, o português poderá vir a ser língua materna de cerca de 400 milhões de pessoas em 2050, especialmente pelo crescimento populacional em Angola e Moçambique.
Angola possui várias línguas nacionais que coexistem com o Português. As línguas mais faladas além do português incluem o kikongo, kimbundu, cokwe, ngangela, oshikwanyama, entre outras.
Em 2025, há um projecto experimental para introduzir o ensino formal de seis línguas nacionais (umbundu, kimbundu, cokwe, kikongo, nganguela, ocikwahama) na primeira classe, com professores, coordenadores e material pedagógico dedicado. O Instituto de Línguas Nacionais (ILN) tem como missão institucional estudar línguas nacionais, suas variantes, promover sua preservação e valorização, conforme Decreto Presidencial n.º 159/21.
O governo angolano implementa iniciativas como o “Plano Nacional de Formação de Quadros”, que inclui formação de professores em metodologias de ensino de línguas, educação infantil, etc. Por exemplo, uma edição do plano resultou na formação de mestres em educação infantil e ensino primário, com especialidades em Metodologia de Ensino de Línguas.
Um estudo recente (“Análise dos conteúdos de Língua (Gramática) nos programas e manuais de Língua Portuguesa do Ensino Primário angolano”) mostra que os programas e manuais de Língua Portuguesa nem sempre reflectem as necessidades reais sociolinguísticas dos alunos, pois há grandes interferências das línguas nacionais (L1) e uma discrepância entre os conteúdos gramaticais previstos e a actual prática de comunicação linguística dos estudantes.
Falta de professores qualificados para ensinar algumas das línguas nacionais e para aplicar metodologias que reconheçam variações linguísticas locais é um problema real. O projecto para ensino de línguas nacionais prevê a formação de docentes para essas línguas, o que indica actualmente a escassez de pessoal treinado. Há necessidade de revisão dos manuais e programas de Português para que estes considerem as variedades linguísticas angolanas e as práticas comunicativas reais dos alunos (oralidade, fala, influência de línguas maternas).
A valorização das línguas nacionais (na prática, no estatuto escolar, nos currículos, no material pedagógico) é um tema presente nas discussões públicas em Angola. Iniciativas recentes procuram formar professores para melhorar a qualidade do ensino primário, mas os desafios institucionais (infraestrutura, acesso ao material pedagógico, coerência curricular) persistem.
A notícia “Angola ganha mestres de educação de infância e ensino primário” indica que, embora haja progresso, ainda há muito caminho a percorrer. Com base nos dados verificados, podemos afirmar que os professores de Língua Portuguesa em Angola enfrentam desafios concretos e múltiplos:
1. Diversidade linguística: trabalhar num país plurilíngue exige reconhecimento das línguas nacionais, adaptação metodológica e materiais adequados.
2. Formação docente: há progresso, mas ainda há lacunas — necessidade de formação em metodologias específicas, adaptadas ao contexto lingüístico real dos alunos.
3. Recursos didácticos e curriculares: muitos manuais e programas estão desfasados da realidade sociolinguística; é necessário reconhecimento das variedades do português angolano nos materiais didáticos.
4. Políticas de valorização: para que as línguas nacionais sejam efectivamente integradas, o estatuto legal, financiamento, políticas curriculares, material didáctico e formação docente precisam estar alinhados.
5. Motivação dos professores e alunos: identidade linguística, reconhecimento, pertinência cultural do ensino, tudo isso contribui para melhorar a motivação, tanto do docente como do aluno.
Por: FERNANDO CHILUMBO
O Jornalista em Progresso









