Quando o capital humano se torna o verdadeiro norte da sustentabilidade organizacional As empresas angolanas enfrentam tempos de incerteza económica, mas há uma verdade que muitos ainda se recusam a admitir, não é a tecnologia, nem o investimento estrangeiro, que sustenta uma organização, são as pessoas.
E é justamente aqui que o papel dos Recursos Humanos se torna decisivo, embora tantas vezes subvalorizado, mal interpretado e reduzido a mera burocracia. Enquanto alguns gestores continuam a olhar para o RH como a área ligada as folhas de salário e as faltas justificadas, o mundo corporativo evolui. Hoje, o verdadeiro diferencial competitivo está na capacidade de uma empresa inspirar, reter e desenvolver o seu capital humano.
Em Angola, essa consciência ainda é frágil, e o preço tem sido alto, desmotivação, fuga de talentos e culturas organizacionais extremamente adoecidas. A Lei n.º 12/23, de 27 de Abril — Lei Geral do Trabalho, veio reafirmar princípios fundamentais das relações laborais, como a valorização do trabalhador, o direito à estabilidade no emprego e a promoção de condições dignas de trabalho (artigos 4.º e 8.º).
Contudo, o que se vê em muitas empresas angolanas é o contrário, a precarização do vínculo, a ausência de planos de desenvolvimento e uma cultura que ainda privilegia o controlo sobre a liderança inspiradora.
Mais do que contratar, é necessário liderar com empatia e visão estratégica, promovendo políticas internas que inspirem confiança e fomentem o compromisso colectivo. Num cenário em que o poder de compra diminui e a incerteza cresce, investir em formação, comunicação transparente e reconhecimento interno torna-se uma ferramenta de sobrevivência empresarial. A crise económica não é desculpa para a falta de visão.
Pelo contrário, é o momento de separar os líderes dos chefes. O verdadeiro líder entende que o RH não é uma despesa, mas um investimento estratégico. É ele quem sustenta a moral interna quando o orçamento aperta, quem mantém a equipa focada quando o mercado vacila, e quem transforma adversidade em aprendizagem.
O que se vê, porém, é o oposto, áreas de RH silenciados, sem autonomia para agir, subordinados a políticas cegas e decisões tomadas por quem nunca estudou o comportamento humano. É uma contradição gritante querer resultados de excelência e tratar pessoas como números.
O momento exige coragem. Coragem para olhar para o RH não como um custo, mas como o instrumento de sobrevivência e reposicionamento estratégico. Coragem para cumprir, de facto, a Lei 12/23 — não apenas no papel, mas na prática diária, no respeito pela dignidade do trabalhador, na promoção da igualdade, na escuta activa e no diálogo social. O desafio é claro, equilibrar eficiência financeira com valorização humana.
O futuro das empresas não dependerá apenas da tecnologia ou das finanças, mas da capacidade de desenvolver pessoas que saibam pensar, inovar e liderar em tempos difíceis.
As organizações que compreenderem isso cedo perceberão que o RH não é apenas uma função de apoio é a bússola que mantém o rumo certo quando tudo o resto parece incerto, ou seja, no fim, quem guia a empresa não é o mercado, são as pessoas. E o verdadeiro norte da sustentabilidade chama-se Recursos Humanos.
Por: YONA SOARES
Advogada | Especialista em Gestão de Recursos Humanos









