A 1.ª edição da Feira do Batuque Urbano de Luanda destacou-se, neste fim-de-semana, no Palácio de Ferro, com um evento dedicado a celebrar o papel da mulher angolana na cultura e na construção do país ao longo dos 50 anos de independência nacional
Com o tema “O papel da mulher na cultura”, a feira reuniu mais de uma centena de convidados entre artistas, académicos, jornalistas e representantes de instituições culturais, num promoveu uma reflexão sobre a evolução da mulher na sociedade angolana, através de debates, exibições artísticas e cinematográficas.
A mesa-redonda, moderada pela jornalista cultural Estrela Tomé, contou com as intervenções da coordenadora-geral para a Juventude dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Luiana Canza, da professora Yola Castro e da artista visual Débora Sanjai, que partilharam experiências e perspectivas sobre o papel da mulher no desenvolvimento cultural e social do país.
Durante a sua intervenção, Luiana Canza, também membro do Parlamento Juvenil da SADC, destacou que as mulheres angolanas estão a conquistar espaços de liderança e a fazer ouvir as suas vozes na definição de políticas públicas. “Saímos do espaço da cozinha e migrámos do espaço da maternidade. Hoje somos chamadas, de forma consciente e consistente, a ocupar lugares de liderança, onde as nossas vozes são ouvidas e respeitadas”, afirmou.
A artista visual Débora Sanjai sublinhou a importância do novo posicionamento da mulher na sociedade contemporânea, afirmando que as angolanas já não se limitam aos papéis tradicionais.
“Já não somos apenas donas de casa ou mães. Hoje temos a capacidade de dizer não, de nos ouvir e de lutar pelo que acreditamos merecer”, declarou, defendendo uma mudança de mentalidade e maior valorização da mulher enquanto agente de transformação social.
Por sua vez, a professora Yola Castro definiu a mulher como a “guardiã da cultura”, por ser a principal transmissora de valores, hábitos e identidade nas famílias e comunidades. “A mulher preserva e promove a cultura em tudo o que faz — na forma de vestir, de falar e de viver”, destacou.
Exibição cinematográfica
A feira apresentou ainda a curta-metragem “Vou mudar a cozinha”, uma adaptação de um conto de Ondjaki, com curadoria de André Gomes, do projecto Cinéfilus Literatus. O filme, com cerca de 30 minutos, faz uma reflexão sobre a condição da mulher africana e angolana, explorando o seu papel no passado, presente e futuro.
Para André Gomes, o evento foi uma oportunidade para pensar o valor da cultura e da identidade nacional, bem como o contributo feminino nesses cinquenta anos de independência. “Eventos como este ajudam-nos a compreender o que foi feito até agora e o que podemos construir nos próximos cem anos”, afirmou, apelando às mulheres.









