O futebol angolano vive agora tempos de maior exigência, já não basta o grito na linha lateral, o gesto instintivo, a fama de antigo craque ou o carisma conquistado no bairro. Treinar uma equipa, hoje, exige qualificação.
E é neste espírito que eu entendo a recente decisão da Federação Angolana de Futebol, ao suspender três treinadores por não possuírem a licença “B” exigida para orientar clubes oficialmente: Silvestre Pelé, Hélder Teixeira e Salvador Cardoso.
Também compreendo ser uma medida que pode soar dura, até impopularmas é justa e, acima de tudo, necessária. Já não é novidade que Angola é uma terra de talentos, onde o futebol pulsa nas ruas, nas praias e nos campos improvisados com balizas de pedra.
Mas, quando esse talento chega ao momento da verdade, ele precisa de ser lapidado com ciência, com metodologia, com uma pedagogia que vá além do improviso. E aí entra a figura do treinador não como mero condutor de futebolistas, mas como formador, gestor emocional, estratega e líder. Durante muito tempo chegamos a confundir experiência com competência.
Ser ex-jogador não é automaticamente sinónimo de ser bom treinador, o futebol de hoje exige estudo contínuo, actualização táctica, domínio das novas tecnologias aplicadas ao treino e compreensão da psicologia desportiva.
E tudo isso se conquista com formação. Miller Gomes, enquanto Director Técnico Nacional, já havia lançado as bases de um processo formativo sério, era o início de uma mudança cultural que precisamos de consolidar. Agora, cabe a Zeca Amaral retomar e aprofundar esse caminho, com rigor e visão.
Angola precisa de uma escola de treinadores com continuidade, exigência e ambição, uma vez que não se pode formar grandes equipas com treinadores mal preparados.
Não se trata de excluir, mas de incluir com critério, a FAF não está a punir sonhos, está sim a proteger o futuro do nosso futebol. Entendo que a FAF está a dizer, com coragem, que o banco de suplentes não é um lugar para improvisos, mas para excelência formativa. Apelo aos treinadores suspensos, que esta seja uma pausa proveitosa.
Que se inscrevam, que estudem, que voltem ainda melhores. Porque talento eles já demonstraram que têm, falta agora o carimbo da competência. Aos clubes, o recado é claro: apostem em quem esteja preparado e aos adeptos, que muitas vezes cobram resultados sem conhecer os bastidores, vale lembrar que um futebol melhor começa com treinadores melhores, porque a qualidade começa igualmente no banco.
Por: Luís Caetano
 
			 
					



 
							



