O músico e instrumentista Sam Mangwana, que foi recentemente condecorado pelo Presidente da República, apelou ontem à necessidade de se resgatar a rumba angolana e torná-la cada vez mais presente no cenário artístico nacional, sobretudo no seio dos jovens artistas
Sam Mangwana, que foi o anfitrião da terceira edição do Caldo do Poeira, realizado no último Domingo,26, no espaço Prova D’Arte, no Miramar, em Luanda, considerou importantíssimo que se mantenham vivos e bem conservados os ritmos que fazem parte da história de Angola, com referência para a rumba, do qual afirma terem nascido a maioria dos estilos musicais populares angolanos.
Durante a sua intervenção, o icônico artista da rumba internacional alertou que o estilo pode desaparecer se continuar a ser “ignorado” pelos jovens artistas, considerando ser fundamental que se torne a rumba num estilo mais presente no musical nacional.
“Eu aconselho as novas gerações a olharem mais àquilo que são os estilos africanos para sermos diferentes e especiais no mundo. Se a nossa juventude continuar a copiar aquilo que é do ocidente ou da América não terá um bom caminho e não deixar história como nós mais velhos estamos a deixar”, recomendou o artista de 80 anos de idade.
Mangwana sublinhou a importância de o artista construir um legado que sirva de inspiração para as próximas gerações, tendo afirmado que um verdadeiro artista não deve apenas focarse em animar o público, mas deve deixar mensagens que possam levar as pessoas a reflectirem e o poderem lembrar mesmo quando este já não estiver vivo.
Para si, a música é a forma mais viável que encontrou para se comunicar com mundo e sente-se muito feliz e realizado cada vez que soube ao palco e vê as pessoas a vibrarem com a sua musicalidade.
“Na vida a pessoa nasce, começa a engatinhar, cresce, trabalha e no fim, antes de partir desse mundo, se a pessoa começa a ser reconhecido por aquilo que faz, é uma grande alegria. Estou feliz por todo este reconhecimento”, expressou o artista diante do público que o aplaudia em pé, com assobios e aplausos eufóricos.
Concerto repleto de nostalgia
O concerto, que marcou a terceira edição da nova roupagem do “Caldo do Poeira”, arrancou por volta das 11 horas da manhã, com o artista Júlio Gil a fazer as honras da casa com três musicais que homenagearam Manuel de Oliveira, uma referência da música angolana. Subiu depois Camacho que encarnou Cajó Pimenta em “muzineidi óh Kidi”, Buarque, em “calunga nguma” e Dominguinho em “nfuma”.
Passaram ainda pelo palco artistas como Mandy Star, que interpretou Diana Spray e Ngoma Jazz, Beth Coelho que reviveu os sucessos de Lourdes Vandúnem e Nany e Legalize trouxe Urbano de Castro em “rumbanegra” e “gajajeir”, Óscar Neves em “Joaquim Mbolombolo” e tabora Guedes em “Jack rumba”.
Público vibrante e eufórico
Quando relógio passava já das 15 e um quatro, eis que o concerto ganhou mais vida e sonoridade com a figura máxima do evento a subir ao palco. Na plateia, eram visíveis as expectativas e emoções nos presentes que logo de imediato “invadiram” a pista e a ala frontal do palco para filmar, dançar, cantar, assobiar e aplaudir cada vez mais perto de Sam Mangwana.
Em palco, Sam Mangwana recordou os anos de glória da sua carreira, levando o público a viajar na sua sonoridade inconfundível, trazendo temas que marcaram diferentes gerações da música africana.
Presente no evento, o actual secretário-geral da União dos Escritores Angolanos (UEA), Lopito Feijó, destacou a grandeza artística de Sam Mangwana e sublinhou a necessidade de se difundir a rumba enquanto estilo que está intrinsecamente ligada à história do país. “Mangwana é um artista que dispensa apresentações, é um ícone da música africana, é uma biblioteca viva e estar aqui para ouvilo é muito satisfatório para mim”, disse o escritor.
Quem também enalteceu a iniciativa da Rádio Nacional em incentivar a promoção da rumba angolana e trazer em palco um ícone daquele estilo musical foi o artista Migg, que além de considerar positiva, reforçou o apelo aos jovens artistas para apostarem também na rumba como estilo musical de raiz africana.
“A rumba é um estilo oriundo de África, apesar de serem os latino-americanos quem a conservam e difundem melhor actualmente, o estilo nasceu aqui em África e é nossa obrigação nós artistas africanos, sobretudo os jovens, apostarem mais neste como faz o Congo Democrático e os Camarões”, apelou o artista. Nesta que foi a sua participação inédita no Caldo do Poeira, Sam Mangwana abriu o seu momento com “morena” e depois “pátria querida”.
Visitou ainda Kinshasa com “felicite” e “lubamba” e fechou a actuação com “Tio António”, música que levou o público a vibrar no meio da roda, com Aminata Goubel a comandar a caravana da plateia. Entre os presentes, a opinião era unânime: Mangwana continua a ser um show man em palco e uma biblioteca viva da música africana.
De sublinhar que o mesmo foi condecorado no último Sábado, 25, pelo Presidente da República, no encerramento da 7ª cerimônia de condecorações, no âmbito das celebrações dos 50 anos de independência nacional.









