O presente texto tem como objectivo esclarecer um equívocor e corrente relativo à acentuação gráfica em português, nomeadamente a ideia de que determinadas palavras, como bênção, Estêvão, acórdão, órfão e órgão, conteriam dois acentos. Demonstra-se, com base na fonologia e na ortografia normativa, que cada palavra da língua portuguesa pode possuir apenas um acento gráfico e, consequentemente, uma única sílaba tónica.
A acentuação gráfica em português constitui um dos aspectos mais sensíveis da ortografia, uma vez que reflecte directamente a tonicidade e o timbre das vogais.
A confusão frequente entre acento gráfico e nasalização, bem como entre acento e til, leva alguns falantes a supor que certas palavras apresentam “dois acentos”.
O presente estudo procura esclarecer, à luz da gramática normativa e da linguística fonológica, que tal fenómeno não ocorre em língua portuguesa. Para tal, são analisa das as palavras bênção, Estêvão, acórdão, órfão e órgão, demonstrando-se que cada uma contém apenas um acento gráfico, o qual indica a sílaba tónica.
Acento gráfico e acento tónico: distinção fundamental Na língua portuguesa, o acento tónico é a força prosódica que incide sobre uma sílaba, tornando-a mais saliente do que as restantes.
Já o acento gráfico é o sinal escrito (´, `, ^) que representa, quando necessário, essa tonicidade, segundo regras ortográficas específicas. O til (~), embora frequentemente confundido com acento, não é um acento gráfico.
Trata-se de um sinal diacrítico de nasalização que altera o som da vogal, mas não indica tonicidade. Assim, em palavras como órgão ou bênção, há apenas um acento gráfico (agudo ou circunflexo) e um til, que não deve ser considerado como segundo acento.
Análise das palavras mencionadas
a) Bênção
A palavra bênção apresenta o acento circunflexo na sílaba bên, indicando que a vogal é fechada e tónica. O ão final contém apenas o til, que assinala nasalização. Por tanto, existe um único acento gráfico.
b) Estêvão
Em Estêvão, o acento circunflexo recai sobre a sílaba tê, marcando-a como tónica. O ão final apenas in dica nasalização. Logo, há um só acento gráfico.
c) Acórdão
Na palavra acórdão, o acento agudo incide sobre a sílaba cór, assinalando a tonicidade. O ão é nasal, mas átono. Assim, ocorre ape nas um acento gráfico, coincidente com a sílaba tónica.
d) Órfão
A palavra “órfão” contém acento agudo na sílaba ór, indicando a sua tonicidade. O ão é nasalizado e final, não possuindo acento gráfico. Portanto, há um único acento gráfico.
e) Órgão
Em órgão, o acento agudo incide sobre ór, identificando a sílaba tó nica. O ão apenas expressa nasalização. Assim, verifica-se um só acento gráfico.
A estrutura prosódica da língua portuguesa estabelece que ca da palavra apresenta apenas uma sílaba tónica. A existência de mais de um acento gráfico seria, por tanto, incompatível com a natureza da acentuação do português. Conclui-se, assim, que é incorrecta a ideia de que palavras como bênção, Estêvão, acórdão, órfão e órgão apresentam dois acentos. Em todas elas, observa-se ape nas um acento gráfico, correspondente à única sílaba tónica.
O til que nelas aparece serve única mente para indicar nasalização e não constitui um segundo acento. O rigor ortográfico e fonológico da língua portuguesa impe de a duplicação de acentos gráficos ou de sílabas tónicas numa mesma palavra.
A distinção entre acento gráfico e sinal de na salização é essencial para a correcta escrita e pronúncia das p lavras, assegurando a clareza e a coerência do sistema ortográfico português. Fernando Chilumbo, O Jornalista em Progresso.
Por: FERNANDO CHILUMBO