O Centro de Conferências de Belas (CCB), em Luanda, foi o palco da 8.ª edição do Festival Caixa Fado, onde mais de duas mil pessoas vibraram, em grande estilo, ao som das sonoridades de artistas angolanos e portugueses, em celebração dos 50 anos da Independência
Sob o lema “Unidos pela história, juntos pela liberdade”, o espectáculo reuniu no mesmo palco os artistas angolanos Matias Damásio, Heróide e Anabela Aya, e os portugueses Camané, Filipa Cardoso, Marco Rodrigues e Ana Sofia Varela, num verdadeiro símbolo da ponte cultural entre os dois países.
O festival, que se reafirma como um evento icónico na promoção e celebração da diversidade cultural e musical, tem sido uma ponte de diálogo artístico que une dois continentes e transporta os espectadores para espaços emocionais únicos. Matias Damásio cantou vários temas musicais, entre eles “Lágrima”.
Fez ainda dueto através dos temas “Lisboa Menina e Moça”, com Camané, que também interpretou “Fado da Tristeza” e um medley de marchas populares. Anabela Aya, que apesar de deleitar-se noutros ritmos, levou ao palco o calor e a identidade africana com a sua indumentária.
Emocionou o público com as músicas “Meninos do Huambo”, em homenagem a Ruy Mingas (in memória), e partilhou com Marco Rodrigues o dueto “Loucura”, um dos momentos mais aplaudidos. Para a artista, partilhar o palco com artistas lusos é sempre uma experiência gratificante.
Neste evento, que tem como destaque o Fado, Anabela defendeu maior abertura por parte do público às novas sonoridades. De igual modo, apelou aos órgãos de comunicação social para maior divulgação destas experiências. “Essas sonoridades são muito importantes, porque estamos com espíritos muito agitados e ajudam-nos a acalmar a alma”, afirmou.
Com o sonho de gravar com artistas portugueses, em especial Marco Rodrigues e Sara Correia, a artista angolana Heróide mostrou-se agradecida pela oportunidade de partilhar o palco com grandes nomes do Fado.
Heróide, que tem Yola Semedo como inspiração, contou que aprendeu o estilo Fado ao ouvir e imitar outros artistas. Com a intenção de ver as suas composições em destaque em Portugal, país onde reside, garante trabalhar para mudar essa realidade. “Nós, angolanos, somos muito hospitaleiros, e quando outras culturas demonstram interesse em juntar-se a nós, estamos sempre de braços abertos”, reforçou.
Artistas portugueses emocionam público
O fadista Camané, que actua em Angola desde 1993, considerou o festival fantástico, por unir artistas de dois países e permitir que partilhem o mesmo palco. Durante a sua apresentação, interpretou temas recentes do seu vasto repertório.
Por outro lado, a fadista Filipa Cardoso, entusiasmada e visivelmente emocionada, acredita que o Semba tem a mesma profundidade do Fado. Pela terceira vez no festival, confessou ter ficado nervosa ao cantar com Heróide, de quem se declarou fã.
“Ela escolheu um dos temas do meu álbum que há muito tempo eu não cantava, e foi um prazer fazer um dueto com ela”, contou, entusiasmada e com um sorriso no rosto, mostrando-se honrada pela história de dois povos unidos pela língua, pela música e pela história.
Organização
Para a Presidente da Comissão Executiva do Caixa Angola, Manuela Ferreira, o evento é um reviver da história que une Angola e Portugal. Apesar dos desafios, afirmou que esta edição foi mais fluida e destacou a importância simbólica de coincidir com as celebrações dos 50 anos da Independência.
“Esta edição é especial porque celebra a história que os dois países partilharam ao longo do tempo”, declarou. Questionada sobre a adesão do público, explicou que, desde as edições anteriores, há uma grande participação de angolanos no festival, e que Angola já se identifica com estilos musicais de outros países, como é o caso do Fado, confessando que juntar os dois países num mesmo palco é reviver uma história que os une, embora nem sempre seja uma ta