O hiato do produto corresponde à diferença entre o nível de produção efectiva de uma economia (PIB real) e o nível máximo de produção sustentável que a mesma pode atingir com a plena utilização dos recursos de produção disponíveis, mas sem gerar pressão sobre as taxas de inflação (PIB potencial), podendo o mesmo ser positivo ou negativo.
Um hiato positivo implica que a economia se encontra superaquecida e a produzir acima do seu potencial, com altos riscos de inflação, resultante do facto de a economia estar a crescer muito rapidamente, gerando uma elevada procura por bens e serviços susceptível de superar a capacidade de produção e a consequente oferta.
Já o hiato negativo indica que a economia está a operar abaixo do seu potencial, ou seja, a economia encontra-se numa situação de ociosidade dos recursos e de menor pressão inflacionária.
Ao passo que o hiato nulo (igual a zero) implica que a economia está a operar na sua capacidade máxima sustentável, pelo que não se geram nem pressões inflacionárias nem ociosidade dos recursos.
Quando o valor real final dos bens e serviços produzidos numa determinada economia durante um período — em regra, um ano — se encontra abaixo do seu valor potencial, indicando a existência tanto de ociosidade na capacidade de produção quanto de uma procura inferior ao seu nível de pleno emprego, ampliando o potencial de geração de deflação, economicamente encontramo-nos diante de um hiato deflacionário ou recessivo.
Por sua vez, quando o PIB real de uma economia se encontra acima do seu potencial de pleno emprego, ou seja, verifica-se na economia em causa um excesso de procura relativamente à oferta de bens e serviços de pleno emprego, ficando implícito que, a qualquer momento, se verificarão aumentos no nível geral dos preços, regista-se um hiato inflacionário.
O hiato do produto é um indicador económico bastante analisado tanto pela academia (economistas) como pelo mercado (investidores e empresas), para compreender as dinâmicas de desaquecimento e/ou superaquecimento da economia, quanto pelo órgão responsável pela condução da política monetária (Banco Central), para a manutenção da estabilidade macroeconómica — sustentando decisões sobre taxas de juro e controlo da inflação.
Um outro factor que merece particular importância é o hiato inflacionário, ou seja, a diferença entre o nível de rendimento de uma economia quando estão a ser usados ao máximo todos os recursos produtivos disponíveis e o seu nível de rendimento corrente.
Dito de outro modo, o hiato inflacionário do produto verifica-se na situação de pleno emprego dos factores de produção, correspondente a um nível de procura agregada superior à oferta agregada.
Assim sendo, assistir-se-á à tendência de aumento do nível geral de preços, uma vez que não existem excedentes de mão-de-obra (toda a mão-de-obra disponível na economia encontra-se empregada), e consequentemente a uma pressão inflacionária na economia.
Logo, a existência do hiato inflacionário também é explicada pelo aumento das actividades comerciais e/ou das despesas governamentais, sendo este último a principal explicação para os inúmeros hiatos inflacionários registados em vários países em desenvolvimento, como é o caso de Angola.
O hiato inflacionista sinaliza um potencial aumento da taxa de inflação, razão pela qual investidores e empresas o acompanham com bastante preocupação, pois as suas decisões levam em consideração as expectativas relativas à evolução da inflação, uma vez que as alterações no nível geral de preços tendencialmente geram mudanças no nível das taxas de juro, susceptíveis de afectar completamente as decisões dos agentes económicos.
Aumentos na taxa de inflação geram aumentos nas taxas de juro, visando justamente a contenção da inflação e, por sua vez, aumentos nas taxas de juro levam naturalmente ao agravamento dos custos de endividamento das empresas. Em primeira instância, a dinâmica do hiato inflacionário dá-se com um excesso de procura, que consequentemente gera um aumento da procura do factor de produção trabalho (maior contratação de mão-de-obra).
Uma vez que o mercado já se encontra superaquecido, a escassez de mão-de-obra disponível gera um aumento no nível de salários, pois as famílias, enquanto detentoras do factor de produção trabalho, vêem aumentar o seu poder de negociação.
Sendo que este aumento dos salários impactará negativamente sobre a estrutura de custos das empresas (aumentará os custos de produção), a economia registará um aumento do nível de preços.
Assim sendo, assistir-se-á a uma paulatina aceleração da inflação, até ao pleno emprego — ponto em que a oferta agregada coincide exactamente com a procura agregada.
Há já algum tempo, a esta parte, um debate bastante acalorado sobre as causas de um hiato inflacionário, destacando-se entre elas as políticas fiscais e monetárias excessivamente estimulantes, quando os governos incorrem em elevados níveis de despesas públicas (estimulando artificialmente a procura) e/ou quando o Banco Central, de forma independente ou não, procede a sucessivas reduções das taxas de juro — gerando uma falsa impressão de bem-estar económico e social no curto prazo, que, no entanto, pode encobrir a formação de um grande hiato inflacionário, que terá de ser contido com futuras elevações das taxas de juro.
Por: WILSON NEVES