A paz continua em espera na República Democrática do Congo (RDC), enquanto os confrontos continuam no terreno hoje e a retórica beligerante aumentou na arena diplomática neste fim-de-semana, noticia a Prensa Latina
Apesar do acordo assinado pela RDC e Rwanda, mediado pelos Estados Unidos, e dos apelos para finalizar este documento e preencher as lacunas entre Kinshasa e Kigali, essas lacunas se agravaram ainda mais nos últimos dias.
Por um lado, os congoleses se recusaram a assinar o Quadro de Integração Económica Regional (QREI), um dos elementos derivados do acordo com Rwanda, no qual delegações de ambos os lados trabalharam, aparentemente sem objecções.
No entanto, no momento da assinatura, a RDC decidiu não fazê-lo e condicionou essa medida à retirada das tropas rwandesas de seu território. Por outro lado, o presidente congolês, Félix Tshisekedi, contactou o seu homólogo rwandês, Paul Kagame, e, no contexto do Fórum Global Gateway, realizado em 9 de Outubro em Bruxelas, Bélgica, pediu que se trabalhasse em conjunto para pôr fim à crise de segurança no leste de seu país.
O presidente afirmou que suspenderia o pedido de sanções contra Kigali e aguardaria uma resposta, além de pedir o fim do apoio rwandês aos rebeldes do Movimento Aliança do Congo-23 de Março (AFC/M23).
Nesse contexto, o ministro das Relações Exteriores do Rwanda, Olivier Nduhungirehe, respondeu duramente, afirmando que Tshisekedi poderia “esperar até o calendário grego”, pois Rwanda não está realmente interessado em participar de uma farsa voltada para um público desinformado.
Culpou Kinshasa pelos atrasos nos processos de paz, tanto o assinado sob mediação dos EUA quanto o actualmente em andamento com a AFC/M23 e facilitado pelo Catar.
Também acusou os congoleses de violarem o cessar-fogo com seus caças e drones de ataque, realizarem ataques étnicos e continuarem a apoiar as Forças de Defesa de Libertação de Rwanda, além de promoverem discursos de ódio.
A conversa continuou com declarações do Presidente Tshisekedi, que, dirigindo-se à comunidade congolesa em Bruxelas, disse: “Deixem os ressentidos e ignorantes falarem. Sabemos o que estamos fazendo.
Garanto a vocês que em nenhum momento trairei meu país ou meu povo.” O chefe de Estado atribuiu o mérito ao progresso nas iniciativas de paz e acrescentou: “Sei que causou comoção (referindo-se ao seu discurso no Fórum), mas não levo em conta o que veio à tona. Sei que eles vão pensar, reflectir e me fazer uma oferta, e é isso que espero”.
No terreno, os últimos dias foram marcados pelo reforço de tropas e equipamentos da AFC/M23, que também anunciou o treinamento de mais de 16.000 novos recrutas, incluindo ex-soldados do exército e membros do Wazalendo.
Os insurgentes tomaram o controlo de duas cidades no território de Masisi, na província de Kivu do Norte, enquanto o exército congolês bombardeou vários locais onde o grupo armado supostamente tinha assentamentos.
Nesse contexto, delegações do governo da RDC e dos rebeldes devem retomar as negociações no Catar esta semana, mas até o momento nenhuma das partes confirmou sua presença em Doha.