Participei, recentemente, no Fórum de Cooperação Mediática 2025 sobre a Iniciativa “Cinturão e Rota”, na companhia de cerca de 200 jornalistas de mais de 80 países do mundo, a convite do jornal generalista “Diário do Povo”, para acompanhar a evolução da Rota da Seda, implementada em 2013 pelo Presidente chinês, Xi Jiping, que tem como um dos objectivos o fortalecimento do multilateralismo.
Certamente, é escusado falar do desenvolvimento tecnológico da China, que move quase 100% da sua indústria, com os números a apontarem para o domínio do gigante asiático em 37 das 44 tecnologias críticas, actualmente.
Todavia, dos diversos sectores visitados pelo grupo de jornalistas, desde a fábrica de automóveis da Changan, indústria petroquímica de Yunnan, maior parque de produção de energia eólica do mundo, entre outros empreendimentos, chamou a minha atenção o comércio de flores.
A área de cultivo de flores do país actualmente abrange aproximadamente 1,5 milhão de hectares e o sector emprega mais de 5 milhões de pessoas, segundo estatísticas da Associação Chinesa de Flores.
Por exemplo, em Kunming, tida como a capital mundial das flores, entre a sua população permanente de mais de 70 mil residentes, 46.500 trabalham com flores. Para se ter uma ideia, embora a proporção da indústria de floricultura na economia nacional da China não seja divulgada separadamente nas estatísticas do PIB, o país tem actualmente cerca de 220 mil empresas de mudas e flores, com um valor de produção anual superior a 520 bilhões de yuans (cerca de 73 bilhões de USD).
Estatísticas da Administração Geral de Alfândegas da China apontam para um valor total do comércio de importação e exportação de flores da China de 710 milhões em 2023. Desse total, as exportações somaram 438 milhões, enviadas para 119 países e regiões.
É que as flores produzidas na China chegam a várias partes do mundo, a partir de um sistema de transporte devidamente estruturado, quer área, ferroviária ou terrestre com os países vizinhos. Por aqui, se pode perceber que, além dos empregos directos, a indústria de floricultura chinesa cria milhares de postos de trabalhos indirectos no seu país e no estrangeiro.
O caminho para Angola
A indústria de floricultura da China é uma evidência de que este país tem, verdadeiramente, uma economia diversificada que não se escuda apenas na tecnologia, mas sim, serve de suporte para os diversos sectores.
Enquanto visitávamos toda a cadeia de produção, fez-me lembrar, desde logo, que Angola está mergulhada no desafio da diversificação da sua economia, dispondo, nesta vertente, de condições essenciais para se lançar, a médio ou longo prazo, no desafio da indústria de floricultura, buscando, é claro, experiência de quem anda nisto há décadas.
E por que não a China? Condições para produção Angola possui, na quase totalidade das 21 províncias. Se produzirmos com qualidade, haverá mercado, quer interno, quer externo, a começar por África.
É que, dentre os países que consomem as flores chinesas, está, por exemplo, o Quénia, país com o qual Angola tem, semanalmente, ligação directa pela nossa companhia aérea, a TAAG. E, se há mercado no Quénia, haverá, certamente, para mais países do nosso continente berço.
Jornalista