A mais de um mês da sua realização, o Congresso da UNITA, convocado recentemente, já movimenta os bastidores da política angolana.
E o facto de este ser o maior partido da oposição é razão suficiente, embora desde já se soubesse, igualmente, que o seu actual presidente Adalberto Costa Júnior viesse a ser um dos candidatos à sua própria sucessão.
Após décadas de liderança de Jonas Savimbi, em que não se notaram quaisquer concorrências internas pelo lugar cimeiro, a UNITA já teve depois deste dois presidentes, nomeadamente Isaías Samakuva e Adalberto Costa Júnior.
Ao longo do seu consulado de quase 20 anos, mesmo existindo a concorrência de Paulo Lukamba Gato, Abel Epalanga Chivukuvuku, Dinho Chingunji e outros, nunca o poder de Samakuva foi de algum modo incomodado.
Só por isso desferiu derrotas pesadas aos seus adversários, independentemente da força que alguns julgavam possuir na época.
No primeiro mandato, em que teve como concorrente o agora procrastinado José Pedro Katchiungo, Adalberto Júnior também venceu confortavelmente, apesar de acusações que tivessem sido feitas pelos adversários e seus apoiantes de hipotéticas jogadas de bastidores.
Agora, enquanto responsável da máquina, é provável que não venha nem queira ser beliscado. Aliás, o facto de dois dias antes da apresentação da sua candidatura ter sido lançada uma relação de apoiantes, entre a velha guarda da organização e a juventude, demonstra, claramente, que há muito se cozinhavam as possíveis alianças que pudessem fazer com que a sua recandidatura ocorra.
Estamos lembrados, por exemplo, de que há dois meses ou menos surgiram na imprensa informações que apontavam para uma suposta coacção por parte de um general, agora nas vestes de político, para a necessidade de se apoiar o actual líder da UNITA.
Os que agissem em contrário, pelo que se publicou, poderiam, se calhar, sofrer represálias. No entanto, no campo da correlação de forças nesta altura – incluindo responsáveis ainda em funções na estrutura – é evidente que se pende muito mais para uma reeleição do que para a entrada de um novo líder, não obstante o sobrenome que este carrega.
Porém, ainda assim, a ousadia de Rafael Massanga Sakaita fez com que se levantassem algumas questões em torno do maior partido da oposição.
Quem teve a oportunidade de apreciar o vídeo da pré-candidatura pode se aperceber da tónica que este apresenta em torno do regresso da UNITA às suas origens, ao Muangai de que tanto se falava, e não só.
Mais do que uma candidatura, a entrada em cena de Rafael Massanga parece também ser um protesto em relação a alianças não bem-sucedidas realizadas pela organização e à situação da sua família a nível da UNITA, o que ficou marcado aquando da apresentação da Fundação Jonas Savimbi.
E não espantará se, numa situação de votação secreta, apesar do favoritismo que se atribui ao actual líder, existam muitos que apoiem o filho do fundador, que parece estar a olhar mais para depois de 2027, caso a liderança a sair deste congresso venha a sofrer um desaire nas urnas.