A avaliação da aprendizagem é um dos elementos centrais do processo educativo, pois permite compreender como ocorre a construção do conhecimento e quais caminhos precisam ser retomados, fortalecidos ou transformados. No entanto, ao longo da história da educação, a prática avaliativa foi frequentemente utilizada como mecanismo de controle e punição, reforçando a lógica da exclusão e da competição entre os alunos.
A perspectiva contemporânea da avaliação, no entanto, propõe um olhar mais humano e pedagógico, que entende a avaliação como instrumento de ensino, e não como uma estratégia de punição (Luckesi, 2011). Avaliar, no sentido mais profundo do termo, não significa apenas atribuir notas, mas sim “acompanhar o processo de aprendizagem”, interpretando os resultados como indícios de avanço, de estagnação ou de necessidade de reorientação.
De acordo com Perrenoud (1999), a avaliação deve ser uma ferramenta de regulação das aprendizagens, capaz de ajudar o aluno a compreender seus próprios progressos e a desenvolver autonomia intelectual.
Assim, a função primordial da avaliação é diagnóstica e formativa, servindo de apoio tanto ao educador quanto ao educando na busca por uma aprendizagem significativa. Luckesi (2011) destaca que a função punitiva da avaliação tem suas raízes em um modelo de escola tradicional, que valoriza a disciplina e a obediência em detrimento da reflexão e da criticidade.
Nesse modelo, o erro é considerado falha, e não oportunidade. O autor propõe uma ruptura com essa visão, defendendo que o ato de avaliar deve estar associado ao cuidado e ao compromisso com o desenvolvimento humano. Quando o erro é tratado como fonte de informação, ele se transforma em elemento pedagógico fundamental para o aperfeiçoamento do ensino.
Libâneo (2013) complementa essa perspectiva ao afirmar que a avaliação precisa estar articulada à prática docente, servindo como meio de reflexão sobre o próprio processo de ensino.
O professor, ao avaliar, também avalia a si mesmo, pois a aprendizagem do aluno reflete a eficácia de sua metodologia, de sua didática e de suas intervenções pedagógicas. A avaliação, portanto, deve ser contínua, sistemática e participativa, integrando o aluno como sujeito ativo e consciente do seu próprio desenvolvimento.
Hoffmann (2014) reforça a importância de uma “avaliação mediadora”, que priorize o diálogo entre professor e aluno e valorize o processo mais do que o resultado final. A autora argumenta que a avaliação deve contribuir para a construção da autoestima e da autoconfiança do estudante, e não para o reforço da insegurança e do medo de errar.
Nessa perspectiva, o professor assume o papel de orientador, incentivando a autonomia e a responsabilidade do educando no processo de aprender. Além disso, é importante compreender que o contexto educacional contemporâneo exige práticas avaliativas que considerem as diferenças individuais e respeitem o ritmo de cada aprendiz. A escola não deve ser vista como um espaço de seleção, mas de inclusão e de desenvolvimento integral.
A avaliação, quando utilizada como instrumento pedagógico, permite ao professor identificar potencialidades e dificuldades, planejar intervenções adequadas e promover aprendizagens significativas, respeitando as dimensões cognitivas, afetivas e sociais do estudante.
Por outro lado, quando a avaliação é usada como punição, ela perde seu caráter formativo e se transforma em um instrumento de coerção. Essa prática gera medo, ansiedade e bloqueios emocionais, prejudicando o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo.
Luckesi (2011) observa que esse tipo de avaliação, centrada apenas na nota e na reprovação, estimula a competição e o individualismo, comprometendo a cooperação e o espírito coletivo que devem orientar o processo educativo. Desse modo, repensar a avaliação é repensar a própria função da escola.
O acto de avaliar deve estar alinhado aos princípios de uma educação emancipadora, que valorize o diálogo, a reflexão e a construção conjunta do conhecimento. O professor precisa atuar como mediador e pesquisador, analisando os resultados da avaliação não como fim em si mesmos, mas como instrumentos de melhoria contínua do ensino e da aprendizagem (Libâneo, 2013).
Em síntese, a avaliação não deve ser entendida como um julgamento, mas como um processo de acompanhamento, compreensão e intervenção pedagógica. Avaliar é ensinar, é compreender o aluno em seu percurso, é reconhecer o valor de cada etapa da aprendizagem.
Uma escola que avalia para ensinar e não para punir forma sujeitos críticos, responsáveis e conscientes do seu papel na sociedade. Essa concepção amplia o sentido da avaliação e reafirma seu lugar como elemento essencial de uma educação verdadeiramente humanizadora.
Por: REIS SIMÃO