Angola aproxima-se de um dos momentos mais decisivos da sua história recente. Nos próximos dois anos, o país vai viver dois acontecimentos que podem redefinir a sua trajetória política: o congresso do MPLA, onde será escolhido o novo líder e candidato presidencial, e as eleições gerais de 2027.
Estes dois momentos não são meros rituais políticos: são um espelho do que Angola quer ser nas próximas décadas — um país que se renova ou um país que insiste em repetir o passado. O congresso do MPLA será, inevitavelmente, o centro das atenções.
Depois de quase 50 anos no poder, o partido tem diante de si um desafio claro: provar que ainda é capaz de mudar, de abrir espaço a novas ideias e de dialogar com uma sociedade profundamente diferente daquela que conheceu nos anos 80 e 90.
Hoje, mais de metade dos angolanos tem menos de 30 anos. É uma geração que não viveu a guerra, que não se contenta com promessas vagas e que começa a perder a paciência com discursos de glória passada. Essa juventude quer trabalho, oportunidades, liberdade e dignidade — e não quer continuar a ouvir que a mudança é perigosa.
A grande pergunta é se o MPLA vai ter coragem de se reinventar. Vai promover uma sucessão transparente, aberta ao debate e às ideias novas? Ou vai repetir a velha prática de decisões tomadas a portas fechadas, onde tudo já está decidido antes mesmo do congresso começar? Se a escolha for pela segunda via, o partido corre o risco de confirmar o que muitos jovens já acreditam: que dentro do sistema não há espaço para verdadeira mudança. E essa percepção, somada ao descontentamento social, pode ser a centelha de um ciclo de contestação política sem precedentes.
Do outro lado, as eleições de 2027 não serão um plebiscito qualquer. Serão um teste ao regime que governa Angola desde a independência. Será a primeira vez que uma geração inteira — nascida depois da guerra — vai às urnas com consciência política e sem medo da alternância. Essa geração não vê a mudança de poder como uma ameaça, mas como um direito democrático e um sinal de maturidade nacional.
Mas a mudança não virá automaticamente. A oposição, sobretudo a UNITA, precisa de mais do que palavras fortes e discursos inflamados. Precisa apresentar soluções concretas para os problemas que mais afetam os cidadãos: emprego, diversificação económica, educação, corrupção e desigualdade. Precisa deixar de ser apenas “o partido contra o MPLA” e transformarse num verdadeiro projeto alternativo de governo.
A sociedade civil também terá um papel crucial. Indignar-se nas redes sociais é fácil; transformar essa indignação em ação organizada e consciente é o verdadeiro desafio. O destino democrático de Angola dependerá, em grande medida, da capacidade de todos — partidos, cidadãos, intelectuais, jovens, empresários — de criarem um espaço político onde as ideias se enfrentem e não apenas as siglas partidárias.
No plano internacional, o mundo está a observar Angola. Num continente onde golpes de Estado e retrocessos democráticos voltaram a crescer, Angola tem a oportunidade de provar que a estabilidade política não é sinónimo de imobilismo e que a mudança não precisa significar caos.
Mas isso exige coragem — coragem para deixar cair velhos privilégios, aceitar o escrutínio público e colocar o país acima dos interesses pessoais e partidários. 2027 será mais do que um momento eleitoral. Será uma escolha entre um país que continua preso ao passado e um país que decide construir o futuro.
Entre um Estado que administra a sobrevivência e um Estado que promove o progresso. Entre uma elite que teme perder o controlo e um povo que exige ser dono do seu destino.
A pergunta que todos os angolanos terão de responder é simples, mas poderosa: queremos continuar a justificar o passado ou temos coragem de escolher o futuro?
Por: ALEXANDRE CHIVALE