Com a apresentação oficial de Patrice Beaumelle como novo timoneiro da Selecção Nacional de Futebol, os Palancas Negras abrem um novo capítulo da sua história. Um ciclo encerra-se com Pedro Gonçalves, técnico que, com altos e baixos, deixou a sua marca e levou Angola de volta a sonhar em grande. Mas, como tudo no futebol, o tempo não espera, e agora é Beaumelle quem assume o leme com o desafio de reescrever esse sonho.
O francês traz na bagagem sete participações no CAN, um Mundial e dois títulos africanos, credenciais que impressionam, sim, mas que, como sabemos, não entram em campo. O que define a continuidade de qualquer treinador, especialmente num cenário tão exigente como o da selecção nacional, são os resultados. E em Angola, terra de paixões acirradas e críticas fervorosas, o caminho será apertado e de muitas cobranças.
Retive da sua apresentação algo essencial: “a selecção deve estar sempre acima de todos”. Uma frase que, dita com convicção, ressoa como compromisso. A decisão de residir permanentemente em Angola é mais do que simbólica; é um gesto de entrega, de envolvimento, algo que há muito se pedia a quem lidera os destinos da nossa equipa nacional.
Estar próximo do ambiente, conhecer a cultura do balneário, os campos e a essência do futebol angolano pode ser meio caminho andado para conquistar o respeito e os resultados.
Não é segredo que a indicação de Beaumelle partiu directamente do presidente da FAF, Alves Simões. A decisão é legítima, como sempre defendi, mas, como qualquer escolha de liderança, carrega consigo o peso da responsabilidade.
O sucesso terá as suas impressões digitais, o fracasso, igualmente. Mas sejamos realistas, não esperemos milagres imediatos. Os dois jogos finais da fase de qualificação ao Mundial de 2026 chegarão com o tempo bastante escasso para revoluções profundas. O que podemos (e devemos) esperar é um sinal claro de identidade, ideias novas e um plano de trabalho coerente.
O verdadeiro teste, esse sim, chegará no CAN de Marrocos, onde todas estas intenções terão de se transformar em acções visíveis. O meu papel, como sempre, será o de observador atento, crítico quando necessário e justo sempre.
Não estarei aqui para aplaudir por alguma obrigação, nem para criticar por qualquer impulso; o compromisso é com a verdade desportiva e com o crescimento do futebol angolano. Que esta nova era não traga apenas mais esperança, traga mudanças positivas e, acima de tudo, vitórias para este povo mwangolê maravilhoso.
Por: Luís Caetano