A primeira vez que visitei a Centralidade do Kilamba foi na cobertura de uma visita do malogrado Presidente José Eduardo dos Santos. Até então, embora visse de longe os edifícios em construção, não tinha a mínima noção do que poderia encontrar no local.
O cenário estava distante dos bairros em que muitos vivíamos. Aproximava-se das cidades urbanizadas, mas aqui a arquitectura chinesa, país em que saíram os construtores, oferecia aos angolanos edifícios, de um lado, e vivendas, do outro.
Com ruas largas, completamente arborizadas, iluminadas, reservas fundiárias para a continuidade de alguns edifícios e ainda espaços que eram supostos ver nascer também outros espaços verdes, onde adultos e crianças pudessem fazer um piquenique. Para muitos, nascia aí um novo modo de vida.
Numa zona urbana em que muitas famílias poderiam ver crescer os seus filhos em segurança, com escolas, postos de saúde e outros serviços sociais. À medida que o tempo passa, a ex-libris, que era visitada por estadistas e outros convidados do Executivo angolano, vai-se tornando uma sombra do passado.
E o brilho vai-se perdendo. Por conta da actuação dos próprios moradores, alguns dos quais parecem desconhecer as normas de boa convivência com locais similares, mas também por conta de algum descaso das próprias autoridades. Se antes se poderia contar com as habituais zonas de lazer, aos poucos estas áreas vão desaparecendo.
Nem mesmo os largos que eram supostos para tempos livres, como passeios, caminhadas e até piqueniques, sobreviveram ao apetite voraz de investidores, alguns dos quais acabaram por os privatizar.
A conhecida feira, formada por inúmeros restaurantes, é o exemplo típico de quando o privado acaba por abocanhar o colectivo. Mesmo que se use o argumento da criação de empregos, está mais do que visto que alguém ficou a perder: a maioria dos moradores do Kilamba.
Agora, os apetites estão voltados para os espaços ao redor dos prédios. Os terrenos que circundavam tanto o Kilamba como o KK 5000 não bastaram. Estão ocupados. Os que ainda restam, entre os prédios, vão dando lugar a novos edifícios para lojas, restaurantes, cantinas, salões de cabeleiros, que antes se pensava ocuparem as superfícies erguidas para o efeito somente.
Só que com isso se vai matando a estética e dando lugar aos mesmos hábitos e vícios que se pensava abandonados nas comunidades de onde muitos saíram.
Às vezes, infelizmente, fica-se com a percepção de que tanto a Administração Municipal do Kilamba como o próprio Governo Provincial de Luanda parecem não se importar com a descaracterização que cresce de forma acentuada e contínua naquele que era tido como um dos locais mais concorridos para se viver.