Aquestão parece simples, mas exige uma reflexão profunda. A cada avanço tecnológico regressa o receio de que as máquinas venham a substituir o ser humano. Hoje, com a ascensão da Inteligência Artificial (IA), essa inquietação ganha novo fôlego: afinal, estaremos diante do fim de muitas profissões ou perante uma nova etapa de transformação no mundo do trabalho? Historicamente, toda revolução tecnológica trouxe rupturas e obrigou trabalhadores, empresas e governos a adaptarem-se.
Nenhuma dessas mudanças eliminou o trabalho humano, mas todas exigiram novas formas de protecção social e requalificação do trabalhador. Com a IA, não é diferente. Mais do que máquinas, o futuro do emprego depende da capacidade humana de se reinventar.
A empregabilidade não está directamente ligada às ferramentas criadas para facilitar a vida, mas ao desenvolvimento contínuo das pessoas — seja através do conhecimento, seja pela habilidade de comunicar e colaborar nos ambientes profissionais.
A minha experiência prática em várias organizações mostra que um dos maiores obstáculos ao crescimento não é a tecnologia, mas sim a dificuldade de comunicação no trabalho. A falta de diálogo, muitas vezes, cria barreiras maiores do que qualquer inovação.
Ainda assim, não podemos ignorar o impacto da IA. Estudos recentes do Fórum Económico Mundial (2023) estimam que, até 2027, cerca de 83 milhões de empregos podem desaparecer no mundo devido à automação e à inteligência artificial. Por outro lado, deverão surgir aproximadamente 69 milhões de novas funções, sobretudo em áreas ligadas à tecnologia, à sustentabilidade e ao cuidado humano.
Ou seja, o saldo líquido é de perda de empregos, mas a transformação também abre espaço para quem estiver preparado. Face a este cenário, torna-se urgente discutir políticas públicas de protecção aos trabalhadores, investir em capacitação e até considerar alternativas como a renda básica universal. Não se trata de utopia, mas de medidas concretas perante um mercado cada vez mais moldado por algoritmos e decisões automatizadas. A tecnologia, por enquanto, ainda está sob o nosso controlo.
Mas até quando? Questionar os rumos da IA não é pessimismo, é responsabilidade. Como adaptar a cultura organizacional para que a inovação caminhe lado a lado com os valores humanos? Como garantir que a eficiência não destrua a dignidade? Respostas definitivas ainda não existem, mas uma certeza permanece: o conhecimento é a principal defesa.
Cada trabalhador precisa de se actualizar constantemente e procurar compreender como a IA pode ser usada em seu favor. O medo da substituição não é novidade — já existia desde a primeira Revolução Industrial. O que muda agora é a velocidade com que esse processo acontece. Por isso, em vez de esperar de braços cruzados, é hora de agir. O convite que fica é: e se, ao invés de temer a IA, começássemos a perguntar-nos como ela pode ampliar o nosso potencial?
Por: ARLINDO BOLOTO
Consultor