A Comunicação Institucional, enquanto disciplina estratégica, desempenha funções centrais na administração pública e privada, ao estabelecer a ponte entre organizações e a sociedade. Este campo assenta em dois pilares fundamentais: a comunicação interna e a externa.
A eficácia depende da uniformização das mensagens, da coerência entre discurso e prática e, sobretudo, da consistência das acções institucionais. Sem este alinhamento, dificilmente se consolida a confiança dos públicos estratégicos, stakeholders. Etimologicamente, o termo comunicação provém do latim communicare, que significa “tornar comum”.
Essa dimensão implica que gestores públicos e privados não se limitem apenas a falar, mas comuniquem com clareza, transparência e reciprocidade. Quando exercida de forma correcta, a comunicação gera confiança, credibilidade e reputação, além de fortalecer as relações com os diversos públicos.
Quando falha, instalase o ruído, a incoerência e, consequentemente, fragiliza a imagem institucional. Segundo Tânia Pereira (2014), a reputação traduz-se na coerência entre valores professados e práticas efectivas. A ausência desse binómio compromete a percepção pública. Nelson Mandela sintetizou esta lógica ao afirmar que, quando se fala na linguagem do outro, a mensagem entra na mente; mas quando se fala na própria linguagem, atinge o coração.
Assim, a comunicação institucional deve ser mais do que um acto técnico, deve constituir-se como exercício de empatia, proximidade e confiança. Autores como Galerani (2006) sublinham que a construção de relacionamentos passa também pela gestão de conflitos, o que exige consistência comunicacional. Miguel Jorge, jornalista e pesquisador, acrescenta que a reputação é consolidada pela coerência entre discurso e acção, sendo este um factor decisivo na credibilidade organizacional.
A experiência internacional demonstra que reputação não se improvisa, constrói-se com rigor e estratégia. No contexto nacional, observase carências estruturais. Ao longo de quase cinco décadas de Independência, a comunicação institucional não atingiu maturidade estratégica, facto visível na prática do Executivo. Persiste a falta de alinhamento comunicacional entre ministérios, órgãos reguladores e porta-vozes oficiais.
O resultado é um discurso fragmentado, marcado por contradições, mensagens desencontradas e ausência de narrativa unificada. Esse desalinhamento mina a confiança social e debilita a credibilidade do Estado junto de parceiros internacionais. Nietzsche advertiu, no século XIX, que “é mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação”. A máxima mantém-se actual.
A incoerência comunicacional, quando se institucionaliza, gera crises de percepção difíceis de reverter. O 16⁰ presidente dos Estados Unidos da América, Abraham Lincoln, reforçou a ideia ao afirmar que “o carácter é como uma árvore e a reputação como a sua sombra”.
A incoerência comunicacional projecta uma sombra que obscurece o valor real das iniciativas políticas, independentemente da sua relevância. Ao passo que Margarida Kunsch, referência no Brasil, defende que vivemos na “economia da reputação”, em que apenas resistem as organizações capazes de comunicar de forma efectiva com os seus públicos estratégicos.
Esta lógica aplica-se igualmente ao Estado. Governos que não compreendem a centralidade da comunicação institucional, ou a praticam de forma desalinhada, fragilizam a sua legitimidade e abrem espaço a disputas narrativas que corroem a autoridade política.
Assim, a comunicação institucional não deve ser vista apenas como mecanismo de difusão de mensagens, mas como instrumento de gestão estratégica do Estado. Exige planeamento integrado, definição clara de responsabilidades, coordenação entre órgãos e consistência discursiva.
A ausência de alinhamento comunicacional no Executivo constitui, hoje, um dos factores que mais comprometem a credibilidade governamental, a confiança social e a imagem internacional do país.
É, pois, imperativo que Angola avance para um modelo de comunicação institucional integrada, no qual discurso e acção sejam coerentes, os canais de informação estejam coordenados e a reputação seja tratada como activo estratégico. Caso contrário, persistirá uma comunicação fragmentada, incapaz de gerar confiança e de sustentar a legitimidade do próprio Estado.
Por: OLÍVIO DOS SANTOS
Consultor de Comunicação Integrada