A saída de Pedro Gonçalves do comando técnico dos Palancas Negras é o fecho simbólico de um capítulo que misturou esperança, renascimento, frustrações e alguma turbulência institucional.
Um ciclo com crença, com muito suor, mas também com alguns pontos de interrogação. Pedro Gonçalves não caiu de paraquedas no futebol angolano, cresceu dentro do próprio sistema, conheceu as bases, orientou os escalões jovens e moldou muitos dos talentos que hoje brilham na selecção principal. Foi, por isso, um operário do futebol angolano, e como tal, merece o reconhecimento pela entrega.
O CAN da Côte d’Ivoire foi, sem dúvida, o ponto mais alto da sua trajectória. Os quartos de final voltaram a colocar Angola no mapa competitivo do continente. E o apuramento invicto para o próximo CAN, no Marrocos, apenas reforçou a ideia de que algo de consistente estava a ser construído.
Mas o futebol também se faz de momentos e ambição. E aqui, Pedro Gonçalves falhou. A campanha para o Mundial 2026 desiludiu, principalmente nos jogos em casa. Perder com Cabo Verde e a Líbia, em Luanda, foi um duro golpe. Em ambos os casos, Pedro Gonçalves levou um “baile táctico”, e isso pesou.
Pesou nos resultados e pesou na confiança de quem gere o futebol nacional. Fora das quatro linhas, a relação com o presidente da FAF, Alves Simões, nunca foi fluida.
Algumas fontes falam de chamadas telefónicas não atendidas, distanciamento nos momentos cruciais, egos inflamados e uma falta de sintonia institucional que, inevitavelmente, criou desgaste. Agora vira-se a página, um novo treinador será anunciado brevemente.
As primeiras informações apontam para um estrangeiro com passagens pelo futebol africano e até por Angola. O que se espera? Que venha com conhecimento da nossa essência, coragem táctica e sobretudo, capacidade de unir, sem excluir ninguém. Que seja o início de um novo ciclo mais vibrante, mais competitivo e que reacenda a fé dos angolanos na sua selecção.
Porque os Palancas Negras não são apenas um símbolo do nosso futebol, são um reflexo da nossa identidade, e esta não pode perder o seu brilho. Venha quem vier, que traga ambição e uma bússola bem calibrada, o povo angolano, apaixonado pelo futebol, merece sonhar de novo.
Por: Luís Caetano