Desde o início do mês de Setembro, tenho estado a viver entre as cidades de Beijing, Liaoning e Panjin, na República Popular da China, juntamente com um grupo de jornalistas de diferentes órgãos de comunicação social e de quadros afectos aos ministérios das Relações Exteriores e das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social. Tem sido uma experiência enriquecedora, certamente inesquecível para todos nós.
A jornada divide-se entre seminários de intercâmbio e visitas a sítios de interesse político, histórico, económico, turístico e de lazer, permitindo perceber por dentro o que representa a China de hoje no panorama mundial.
Mas, então, por que razão ficamos a admirar este país do Oriente asiático, se à partida, pelo comportamento de alguns cidadãos chineses em Angola, somos levados a criar “anticorpos” contra eles? A verdade é que cada caso é um caso, e não podemos transformar uma situação particular em regra geral.
Antes de conhecer este gigante da economia mundial, confesso que tinha muitas dúvidas. As informações desencontradas e os estereótipos disseminados criavam suspeição. Hoje, depois da experiência, compreendo melhor a dimensão da China.
O que realmente impressiona
Não foram apenas as estradas modernas, os arranha-céus luxuosos, os sítios históricos e de lazer, os carros de última geração, nem as telecomunicações e tecnologias avançadas que me causaram admiração. Esses são sinais visíveis de progresso, mas não contam toda a história.
A China, com o seu sistema político que designa de “socialismo com características chinesas”, enfrenta igualmente problemas internos, como qualquer outra nação. Entre eles, destaco o fraco poder de compra de muitas famílias, as rendas de casas elevadas e a necessidade de mais empregos de qualidade, reflexo de um momento difícil da sua economia.
Não significa que esses serviços não existam, mas sim que o nível de exigência da população aumentou — e, importante sublinhar, os cidadãos têm canais próprios e eficazes para apresentar reivindicações, que começam desde as estruturas políticas de base.
Problemas como pequenas corrupções e questões ambientais também existem. Porém, o que impressiona é que não geram revolta descontrolada, porque existem mecanismos de participação e de resposta que dão ao cidadão a sensação de não estar desprotegido.
O maior desafio: unidade e educação
O maior desafio da China continua a ser a unidade nacional. E aqui reside um ponto essencial: um país só se desenvolve com educação de qualidade. A escolarização massiva e a disciplina colectiva incutem nos cidadãos a consciência de que todos são importantes para a construção da nação. Existe uma agenda nacional de continuidade — não se apaga o projecto da liderança cessante, dá-se sequência.
A história da China, ainda que mais antiga, encontra paralelismos com a de Angola: ambas passaram por colonização, guerra interna e procuram reerguerse sob o lema de melhorar o que está bem e corrigir o que está mal. O objectivo é comum — resolver os problemas do povo, como ensinou Agostinho Neto, o fundador da nossa nação.
Lições de governação
No quarto volume da obra A Governação da China, Xi Jinping escreve: “a luta centenária ensinanos que a união faz a força e o trabalho árduo conduz a um futuro brilhante”. Esse ensinamento ecoa num provérbio africano: “Se quer ir rápido, vá sozinho; se quer ir longe, vá acompanhado”. Nenhum país se desenvolve isolado. Valores como paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade são ingredientes indispensáveis para uma sociedade próspera.
O que me leva a admirar a China
Portanto, o que realmente me leva a admirar a China não é apenas o seu aparato material, mas a sua resiliência. A vontade de prosperar e de vencer as adversidades, mesmo com percalços, combinada com uma agenda nacional clara e fiscalizada por outros actores — como os oito partidos democráticos existentes — faz diferença.
O sistema político chinês tem características próprias. Mas uma delas merece atenção: a prioridade é, de facto, o povo. Não apenas em teoria, mas com impactos concretos na vida quotidiana. E é isso, mais do que arranha-céus ou tecnologias, que me faz admirar a China.