O Kremlin acusou ontem a Ucrânia de “abrandar artificialmente” as conversações de paz e reiterou que os países europeus estão a “interferir” nas mesmas, lamentando a falta de atenção às causas da invasão russa iniciada em 2022
“Do lado de Kiev, o processo está a ser artif i c i a l m e nte abrandado. Ninguém quer abordar a essência do conflito. Os europeus estão a interferir no assunto e não vão prestar atenção às causas subjacentes da crise, abrindo caminho para a discussão de formas de as resolver”, argumentou o porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov.
O porta-voz reiterou que “a Rússia continua aberta e pronta para o diálogo”, bem como “interessada e disposta a resolver a crise ucraniana por meios políticos e diplomáticos”.
Peskov insistiu que há uma pausa nas negociações, denunciando que “não há flexibilidade na posição ucraniana e nenhuma disposição por parte do regime de Kiev para realmente iniciar discussões sérias”.
“Estas reuniões e qualquer contacto ao mais alto nível devem ser bem preparados para que tal diálogo e os acontecimentos – que devem ocorrer antecipadamente, a nível de peritos – possam ser concretizados.
Nem o regime de Kiev nem os europeus estão prontos para isso”, concluiu Peskov. Moscovo tem acusado os países europeus de contribuírem para que o conflito se arraste com os apoios que dão à Ucrânia.
Recentemente, 26 países concordaram em enviar tropas para a Ucrânia como parte das garantias de segurança pedidas por Kiev aos aliados no caso de um cessar-fogo. O Presidente norte-americano, Donald Trump, que assumiu o papel de mediador entre Moscovo e Kiev, quer a todo o custo obter um rápido fim da ofensiva ataque russo em grande escala lançada em 2022. Mas as posições das duas partes parecem, por enquanto, irreconciliáveis.
A Rússia exige a desmilitarização e a rendição da Ucrânia, bem como a cessão das regiões ucranianas cuja anexação reivindicou, embora sem as controlar totalmente. Por seu lado, Kiev considera estas condições inaceitáveis e exige garantias de segurança dos aliados ocidentais, por recear um novo ataque da Rússia, mesmo que fosse alcançado um acordo de paz.
A Rússia invadiu e anexou a Crimeia em 2014 e, desde a invasão de 2022, declarou como anexadas as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia. Moscovo e Kiev realizaram este ano três rondas de negociações diretas em Istambul, em Maio, Junho e Julho, nas quais apenas concordaram com a troca de prisioneiros de guerra e de corpos de soldados. Quanto ao resto, limitaram-se a apresentar as respetivas posições sobre qual devia ser a fórmula para resolver o conflito.
O Presidente russo, Vladimir Putin, endureceu ainda mais as posições desde a cimeira de meados de agosto com Trump no Alasca, após a qual recusou reunir-se com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky. Também recusou declarar um cessar-fogo e o envio de tropas ocidentais para a Ucrânia.