O ainda elevado índice de desemprego no país, cifrado entre os 30 por cento, serviu de mote há algum tempo para que um grupo de cidadãos saísse à rua em protestos.
Os manifestantes eram maioritariamente jovens, de vários estratos sociais, muitos dos quais anseiam por um posto de trabalho, nem que seja para que se tenha acesso a um salário mínimo. Entre os desempregados, os jovens, entre 20 e 40 anos, são, indiscutivelmente, a maioria.
Num leque em que estão hoje formados e não formados. Há até um naipe de licenciados, em cursos que nesta altura quase que existem poucas solicitações, que ingressam na lista daqueles que todos os dias olham aos céus para que de lá saia uma luz que lhes permita regressar à casa com um local para trabalhar.
Enquanto alguns sofrem – e basta ver o frenesi que se assiste assim que se lançam os concursos públicos – do outro lado há quem não passe pelo mesmo.
Sempre tiveram boas oportunidades, chegaram às instituições mais cobiçadas do país, mas nem por isso se coibiram em agir dentro dos marcos da lei, independentemente de estarem integrados em empresas públicas ou privadas.
Tem sido assim em bancos, empresas de seguro, instituições públicas e até mesmo em sectores vitais do próprio Estado, onde nos escândalos existentes a mancha acaba por atingir aqueles que, num passado de saudades, sempre foram vistos como sendo o futuro do país.
O que para muitos mais velhos hoje se transforma de algum modo em frustração sempre que se confrontam com actos menos honestos daqueles que se pressupunham ser bons seguidores até mesmo de homens íntegros que os viam como seus seguidores e discípulos.
Tem-se dito que, até provar em contrário, todos são inocentes. É verdade, embora para a opinião pública várias são as pessoas que acabam condenadas mesmo antes da sentença, muito por conta da vida luxuosa e dos comportamentos suspeitos que exibem, contrastando largamente com a vida faustuosa que determinados gestores e funcionários demonstram em Angola e no exterior.
Hoje, por exemplo, o país assiste ao início do julgamento do caso AGT, onde se suspeita que um grupo de funcionários desta instituição, recorrendo a vários esquemas, terá lesado o Estado em mais de 100 mil milhões de kwanzas.
Uma quantia assustadora, capaz de revirar os neurónios de qualquer mortal em Angola neste momento. Com certeza, assim que tiverem a palavra, os advogados dos acusados deverão solicitar absolvição dos seus constituintesejurarquetodoseles-semexcepção-sejam inocentes.
Que alguns terão sido detidos sem quaisquer provas e que devem ser restituídos em liberdade. De igual modo, a acusação deverá fazer o seu papel.
E no final saberemos de que lado pende a verdade.Não obstante a isso, ficará patente, mais uma vez, que distante das desconfianças no passado de que eram muitos anciões que se lambuzavam no pote, prejudicando gravemente o país, hoje são muitos os jovens que parecem ter herdado os mesmos vícios, transparecendo em determinadas situações que acabam por ser mais perigosos e velozes no assalto ao erário que os seus antecessores.