Há um mal silencioso, persistente e corrosivo que mina a credibilidade do desporto angolano a falsificação de idades. Um problema antigo, mas que insiste em se renovar, deixando um rasto de desconfiança, frustração e vergonha, sobretudo quando o nome de Angola aparece manchado em competições internacionais.
Recentemente, voltámos a assistir a mais um episódio vergonhoso durante uma prova nacional de futebol jovem, onde uma equipa foi apanhada a utilizar atletas fora da faixa etária permitida. Não foi o primeiro caso, nem será o último, se continuarmos a tratar o problema com panos quentes.
Se recuarmos um pouco, lembramo-nos dos constrangimentos sofridos pelas selecções jovens de futebol e andebol, quando exames de imagem como a ressonância magnética confirmaram que vários atletas ultrapassavam a idade máxima estipulada. Foram, naturalmente, excluídos.
Onde nasce o problema? Nos clubes que preferem conquistas imediatas ao invés de apostar na formação séria e estruturada? Ou nas famílias que, muitas vezes, com cumplicidade silenciosa, forjam certidões de nascimento, na esperança de ver o filho “vingar” mais depressa? A verdade é que todos têm culpa. Infelizmente, no desporto angolano, ainda se valoriza mais a vitória do que o processo de crescimento.
Ainda há quem prefira o título imediato à construção sólida de um atleta, atalho que só nos leva ao fracasso. Os clubes, em vez de educadores e formadores, transformam-se em cúmplices de uma mentira.
Os pais, que deveriam ser os primeiros a ensinar princípios como a honestidade, tornam-se patrocinadores da fraude. O resultado é um desporto manchado, sem verdade, onde os verdadeiros talentos, aqueles que cumprem as regras, são atropelados por uma máquina de desonestidade. Pior, manchamos a imagem de Angola que começa a ser conhecida, lá fora, como um terreno fértil para a adulteração de idades.
A mudança precisa ser institucional e urgente, onde as federações devem assumir a dianteira com regras claras, fiscalização séria e punições exemplares. O Ministério da Juventude e Desportos, em parceria com o Ministério da Justiça, deve criar um sistema integrado de controlo de registos, com base em tecnologias fiáveis como o registo biométrico e cruzamento de dados.
Os infractores, sejam dirigentes, treinadores ou encarregados de educação, devem ser responsabilizados civil e criminalmente. Não basta discursos, é preciso agir ou continuaremos a falhar com os nossos jovens, com os nossos clubes e com o país.
Por: Luís Caetano