Diante dos vários fenómenos comunicacionais que têm ocorrido no país, questiono-me se tal resulta da falta de conhecimento ou da “arrogância” inspirada no espírito de William Henry Vanderbilt, que, em 1882, terá afirmado “o público que se dane”, posição que lhe custou a reputação.
À semelhança de Vanderbilt, a ministra da Educação, Luísa Grilo, encarnou o mesmo espírito ao declarar, na 18.ª edição do “Café CIPRA”, realizada a 16 de Abril do corrente ano, que “o bom jovem fica mesmo aqui e faz as críticas para nós melhorarmos o trabalho. Aquele que vai, não faz falta.”
Na altura, a declaração gerou uma onda de revolta a nível nacional e internacional. Proferida pela titular da Educação, a afirmação revelou ausência de estratégia. O mais caricato é que o Centro de Imprensa da Presidência da República de Angola (CIPRA) chegou a destacar a citação, reforçando a sua tese.
Este pronunciamento ocorreu um ano depois de o Presidente da República, João Lourenço, ter declarado, em Abril de 2024, em Portugal, que “os angolanos na diáspora têm os mesmos direitos e deveres”, sublinhando a sua importância tanto quanto os que vivem no território nacional.
A mesma posição foi reiterada no discurso de abertura da I Conferência Nacional sobre o Capital Humano, a 29 de Agosto último, onde o Chefe de Estado deixou claro que “Angola precisa de vós!”, acrescentando que “a vossa experiência, o vosso saber e o vosso compromisso são parte essencial da nossa estratégia de desenvolvimento.”
Com estas declarações, torna-se difícil compreender a mensagem distorcida que é transmitida ao imaginário colectivo dos angolanos, levantando dúvidas sobre quem está desalinhado e em quem o cidadão pode e deve confiar.
Este quadro, além de preocupante, expõe algo mais profundo, a inexistência de um Plano Estratégico de Comunicação Integrada que permita redimensionar a comunicação do Executivo e a construção da marca Angola, tanto a nível interno como externo ou a teimosia da ministra, a exemplo de outros gestores públicos. Passados quatro meses, a governante voltou a ser notícia na cerimónia de abertura do ano lectivo 2025/2026.
Questionada por um jornalista sobre os possíveis erros nos manuais escolares, respondeu de forma ríspida, agravando ainda mais a sua já fragilizada reputação. Com essa postura, a ministra dá a entender que não só os angolanos que emigram “não fazem falta”, mas também aqueles que decidem permanecer no país, os chamados “bons jovens”. Importa sublinhar que os meios de comunicação social são o primeiro público das instituições.
Preparar-se para comunicar assertivamente não é uma opção, mas uma obrigação de líderes, gestores e auxiliares do Executivo que pretendem alinhar a comunicação às premissas do Governo. É essencial compreender que comunicar não significa dizer tudo o que vem à cabeça. Comunicação é estratégia e deve ter como objectivo criar, no imaginário do público, sentido de pertença e de responsabilidade.
Com atitudes como as da ministra, o Executivo demonstra estar a abdicar do slogan lançado em Setembro de 2022: “Trabalhar mais e comunicar melhor.” Mais do que um conjunto de palavras, este lema deveria servir de guia para a mudança na prática comunicacional do Governo.
Caso contrário, perpetuarse-á a lógica das chamadas fake news, que muitas vezes não são invenções, mas verdades mal geridas, expostas no rosto e no coração de quem as protagoniza.
E, para mitigar o impacto da incomunicação, corre-se o risco de recorrer constantemente à fórmula de William Henry Vanderbilt de recusar declarações. Como a história demonstra, no episódio de John Rockefeller, em 1906, nem sempre haverá um especialista como Ivy Lee para gerir crises e minimizar danos reputacionais de uma ministra da Educação. O resultado é a incongruência num Governo que se esforça para projectar uma imagem positiva no exterior.
Os estudiosos da comunicação institucional sabem que é impossível consolidar uma imagem externa sem antes redimensionar a comunicação interna. Este último episódio protagonizado pela ministra revela, entre outros aspectos, a incapacidade de alguns auxiliares do poder em lidar com a pressão jornalística e a teimosia em destruir a filosofia de “comunicar melhor”.
Em pleno século XXI, mais do que novas leis, Angola precisa de uma mudança de mentalidade, para que os gabinetes de comunicação institucional exerçam efectivamente as suas competências, salvo raras excepções.
Enquanto os líderes não compreenderem o verdadeiro valor da comunicação integrada, seja na governação, seja no campo corporativo, poderemos passar mais 50 anos a repetir o slogan “Trabalhar mais e comunicar melhor”, sem, contudo, sair do mesmo degrau.
Por: Olívio dos Santos
Consultor de Comunicação Integrada