No domingo, o céu de Luanda brindou-nos com um espetáculo raro: um eclipse lunar. Não foi apenas um fenómeno astronómico, foi um daqueles momentos que nos convidam a parar, olhar para cima e sentir a grandeza do universo. O céu escureceu lentamente, a lua foi-se escondendo, e a sensação era de estar diante de algo maior do que nós, algo que ultrapassa o nosso entendimento.
Enquanto observava, lembreime de outro eclipse, um solar, que presenciei há mais de vinte anos, no Sumbe, província do Cuanza Sul. Recordo-me bem do silêncio, da forma como tudo parou por instantes, e do impacto que aquilo deixou em mim.
Ontem, revivi esse mesmo assombro, mas desta vez com os meus filhos ao lado. Mostrei-lhes aquela maravilha da natureza e, em silêncio, agradeci por poder partilhar esse instante com eles. Mas sabe o que também me chamou a atenção? Foi a quase ausência de comunicação a anteceder o fenómeno.
Poucas pessoas sabiam que iria acontecer, poucas se prepararam para ver. E isso fez-me reflectir: quantas coisas na vida passam despercebidas apenas porque não estamos atentos, porque não nos foi dito, ou porque achamos que sempre haverá uma próxima vez? Talvez a grande lição esteja aí.
A vida, assim como os eclipses, está cheia de instantes raros. O sorriso inesperado de um filho, a visita de um amigo, a oportunidade de abraçar alguém, a chance de dizer “amo-te” ou “perdoa-me”. Se não estivermos atentos, perdemos.
E muitas vezes não há repetição. Há ainda outro aspecto que não posso deixar de destacar. O eclipse não significa desaparecimento. Nem o sol, nem a lua deixam de existir. Apenas ficam encobertos por um tempo.
E não é assim também na nossa vida? Existem fases em que parece que a luz se apagou, em que tudo está escuro e pesado, e em que pensamos que acabou. Mas, na verdade, é apenas uma sombra a passar. A luz continua lá, à espera do seu momento para voltar a brilhar. No mês de setembro, em que também se fala tanto do Setembro Amarelo e da luta contra o suicídio, este fenómeno ganha ainda mais força como metáfora.
Muitos vivem hoje eclipses interiores. Pessoas aparentemente sorridentes e fortes escondem dores profundas. Do mesmo modo que o sol e a lua não desaparecem, mas apenas ficam encobertos, também a esperança e a alegria não deixam de existir dentro de nós, ainda que estejam por momentos tapadas pelas sombras das circunstâncias. O desafio é sabermos que os eclipses passam. Que a luz volta.
Que há sempre mais um ciclo. E, sobretudo, que não devemos atravessar esses momentos sozinhos. Tal como no domingo precisei de partilhar com os meus filhos a beleza daquele espetáculo, também precisamos partilhar com quem confiamos as nossas dores e fragilidades. A vida é feita de ciclos, de luz e sombra, de clareza e silêncio.
Que saibamos estar atentos, gratos e vigilantes, para não perdermos os grandes espetáculos que ela nos oferece. E que, mesmo quando a sombra parecer eterna, não nos esqueçamos de que a luz nunca deixou de existir.
N’gassakidila
Por: Lídio Cândido “Valdy”