No futebol, as emoções são sempre intensas, os debates acesos e as expectativas altas, e há decisões que tocam o âmago daquilo que queremos para o nosso desporto-rei.
A recente resolução da Assembleia Geral da FAF, que permite a inscrição de até oito jogadores estrangeiros por clube no Girabola, volta a reacender a chama de uma discussão antiga, mas cada vez mais urgente.
Sou daqueles que, antes de qualquer estatística ou euforia de plantel, coloca o nível competitivo no centro da equação. Porque é o nível competitivo e só ele que garante estádios cheios, atletas valorizados, selecções fortes e clubes com projecção continental.
E para se alcançar esse patamar, é preciso visão de longo prazo e liderança técnica nos bastidores dos clubes. Reconheço que este tipo de medida nem sempre é bem recebida.
Há quem veja isso como interferência na liberdade dos clubes, mas o futebol moderno, profissional e sustentável, não se constrói apenas com liberdade, constrói-se sim com responsabilidade partilhada.
Assim, a resolução da assembleia geral da FAF deve ser entendida como um ponto de partida, não como ponto final. É preciso continuar o debate, ajustar, emendar, ouvir os clubes, os treinadores, os ex-jogadores e sobretudo os especialistas em formação, porque o que está em jogo não é apenas o campeonato de uma época, é o futuro competitivo do futebol angolano no contexto africano e mundial.
Porque, no fim do dia, o que todos queremos é ver o Girabola forte, com estádios cheios, jogos intensos, jovens promissores a brilhar e veteranos nacionais e estrangeiros a puxarem pelo nível competitivo da equipa.
E isso só se consegue com regras claras, objectivos comuns e compromisso com o que realmente importa, o crescimento sustentável do futebol angolano. O tempo dirá se teremos coragem de continuar a fazer as mudanças que o futuro exige.
Defendo, sem reservas, que a presença de jogadores estrangeiros não deve ser vista como ameaça, mas sim como uma oportunidade estratégica. Desde que venham para elevar o jogo, partilhar experiências, ensinar nos treinos e empurrar os nossos jovens para padrões de exigência mais altos, desde que não sejam contratados apenas por nome, por favores ou por promessas de empresários.
Estrangeiro, sim, mas com qualidade e com impacto real na equipa. O que falta, portanto, não é proibir ou limitar, é obrigar que se faça planificação. É aqui que a decisão da assembleia geral da FAF revela a sua lacuna mais grave, a ausência de uma exigência clara para a utilização de jovens angolanos formados localmente.
Como é que se pretende desenvolver o futebol nacional se não se protege, por regulamento, o jogador nacional em formação? Como se espera que os clubes invistam nas suas academias, se não há um retorno competitivo assegurado? A verdade é que muitos clubes continuarão a negligenciar a formação enquanto não forem obrigados a utilizá-la, e não se trata de romantismo, trata-se de lógica desportiva.
O Brasil, a França, a Espanha e tantos outros modelos de sucesso têm regulamentos que valorizam os atletas da casa, e não é por patriotismo puro, é por estratégia desportiva.
Por: Luís Caetano