Nos últimos anos, o continente africano emergiu como protagonista no cenário global, atraindo atenção das grandes potências não apenas pela riqueza de seus recursos naturais, mas também por sua posição geoestratégica, crescimento demográfico e potencial econômico.
Entre os PALOPs – Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe – destaca-se um contexto singular: países que, apesar das diferenças estruturais, compartilham laços históricos, culturais e institucionais que podem ser transformados em instrumentos estratégicos de projecção internacional e cooperação regional.
O novo tabuleiro geopolítico africano revela uma disputa crescente de influência. China, Estados Unidos, União Europeia, Índia e Rússia expandem investimentos em infraestruturas, energia, mineração e digitalização. Para os PALOPs, estas movimentações representam simultaneamente oportunidades e desafios.
Angola e Moçambique, por exemplo, possuem reservas significativas de petróleo e gás natural, atractivas para projectos de exploração e exportação que podem fortalecer a autonomia energética regional, mas que também aumentam a exposição a pressões externas e ao risco de dependência econômica. A integração dos PALOPs em fóruns regionais como a SADC e a CPLP é determinante para maximizar ganhos estratégicos.
A cooperação multilateral permite articular políticas comerciais, de segurança e de investimento, diminuindo vulnerabilidades e ampliando a capacidade de negociação colectiva frente a potências globais.
Projectos conjuntos em energia, transporte, tecnologia e digitalização podem fortalecer não apenas a economia dos países, mas também sua influência política e diplomática no continente e no mundo.
Um exemplo recente é o aumento da participação dos PALOPs em debates estratégicos sobre energia em fóruns internacionais, reforçando seu papel como interlocutores de confiança.
No entanto, a geopolítica moderna impõe riscos significativos. A dependência excessiva de capitais, tecnologias e expertise externa pode comprometer a soberania econômica e política.
A presença crescente de investimentos de potências externas, se não gerida estrategicamente, pode limitar a liberdade de acção dos PALOPs em decisões de desenvolvimento e política externa.
Por outro lado, há oportunidades claras de liderança regional: através da cooperação política, econômica e cultural, os PALOPs podem consolidar posições estratégicas, fortalecer o soft power colectivo e tornarse actores relevantes em negociações multilaterais e blocos econômicos internacionais. Para Angola e Moçambique, especificamente, o momento é propício para definir estratégias de longo prazo que conciliem crescimento econômico, sustentabilidade e autonomia estratégica.
A correcta gestão dos recursos naturais, aliada a uma diplomacia colectiva eficaz entre os PALOPs, pode criar vantagens competitivas duradouras, consolidando esses países como actores centrais no tabuleiro global.
O fortalecimento de infraestruturas críticas, a promoção de políticas de industrialização local e a integração de cadeias de valor regionais são passos fundamentais nesse sentido. Além disso, a dimensão cultural e histórica dos PALOPs oferece ferramentas únicas de soft power, que podem ser usadas para promover cooperação e influência em arenas internacionais.
A valorização da língua portuguesa como instrumento de diplomacia e comércio, aliada à cultura compartilhada, cria um diferencial estratégico que poucos blocos regionais conseguem explorar de forma tão efectiva. Em suma, os PALOPs enfrentam desafios complexos, mas também dispõem de um potencial estratégico elevado.
O sucesso dependerá da capacidade de integrar políticas regionais, atrair investimentos conscientes, gerenciar recursos naturais de forma responsável e fortalecer a cooperação multilateral.
Só assim poderão transformar a pressão geopolítica em oportunidades concretas de desenvolvimento sustentável, autonomia estratégica e projeção global, consolidando-se como protagonistas activos no novo tabuleiro geopolítico do século XXI.
Os PALOPs têm agora a oportunidade de provar que, mesmo diante das grandes potências, a união estratégica e a visão de longo prazo podem transformar África em protagonista global e soberana.
Por: ALEXANDRE CHIVALE